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Viagens-pelo-Mundo

9/14/2008

CRÍTICAS DE CINEMA

A NOITE DE GLÓRIA DE MARTIN SCORSESE

CITIZEN KANE


VALE ABRAÃO


OS ÓSCARES

OS ÓSCARES EM TEMPO DE GUERRA


O grande vencedor dos Óscares deste ano foi o filme Chicago e nós aceitamos perfeitamente a escolha, muito embora o nosso favorito fosse outro dos filmes nomeados, o fabuloso Gangs de Nova Iorque. Acontece, porém, que a guerra condicionou naturalmente as escolhas. E uma vez que estamos em tempo de guerra, aconselhamos os nossos leitores a seguir o sábio conselho do Padre António Rego: “É preferível proclamar ideais de paz em más companhias que defender a morte e a violência em harmonia com os poderosos”.É interessante referir que o Sétimo Regimento de Cavalaria, mitificado nos filmes de John Ford, também se encontra no Iraque. Nós, que desprezamos os generais, que somos ferozmente antimilitarista e que, no que se refere às forças armadas, só gostamos da versão cinéfila do Sétimo de Cavalaria, protestamos veementemente contra a utilização deste regimento na guerra contra o Iraque. A essa guerra brutal, nós preferimos a guerra de John Wayne em formato DVD, no pack da trilogia da Cavalaria, da Costa do Castelo.Escolher Gangs de Nova Iorque num contexto de guerra, de bombardeamentos e de apocalíptica destruição, seria uma opção muito difícil e delicada, pois é um filme sórdido e medonho, com momentos de extrema violência, embora, na nossa opinião, fosse a opção mais justa, pois o filme de Martin Scorsese é realmente o melhor dos filmes nomeados.O filme relata-nos a vida no bairro de Five Points, na zona mais pobre de Manhattan, em Nova Iorque, no século XIX, mais ou menos na altura em que teve início a guerra civil norte-americana. As imagens cruéis que vemos no ecrã mostram-nos as lutas sangrentas de gangs rivais pelo domínio das ruas e também a revolta da população do bairro contra o alistamento obrigatório nas tropas nortistas a quem não pagasse uma certa quantia em dinheiro. E no meio disto tudo também se inclui um triângulo amoroso, com dimensões freudianas.Tudo isto seria normal se não se desse o caso dos personagens do filme serem realmente tão horrorosos que a nós até nos custa a acreditar que tivesse existido gente assim. O que vemos no filme são, com efeito, putas rascas, assassinos, desordeiros, larápios, enfim, gente do pior, uma verdadeira escumalha, e por isso o filme nos causa um certo incómodo e até algum nojo. Há que relevar também a interpretação do consagrado Daniel Day-Lewis, talvez merecedora de um Óscar, embora em relação a este Óscar já não estejamos tão certos, pois também gostámos imenso da límpida interpretação, discreta e contida, de Jack Nicholson, no filme As Confissões de Schmidt. Mas nenhuma delas ganhou qualquer Óscar.Como dissemos no início e voltamos a repetir agora, aceitamos que Gangs de Nova Iorque tivesse sido preterido em favor de Chicago. É que no contexto de uma guerra de merda e num mundo que é uma merda, na opinião de José Saramago, mostrar ainda mais merda não seria muito conveniente. E daí que a Academia tenha eleito um filme cantado e dançado, embora não tenha com isso ressuscitado o cinema musical, que deu precisamente os últimos suspiros com o criador original de Chicago, Bob Fosse.Gostaríamos também de destacar o merecido Óscar atribuído a Nicole Kidman pela sua interpretação no filme As Horas» de Stephen Daldry, embora este filme merecesse mais um Óscar feminino (Meryl Streep) e também um Óscar masculino, sendo este último de certa maneira uma insólita intromissão, pois trata-se de um filme de mulheres. Este Óscar iria para o excepcional intérprete Ed Harris, no papel de um homossexual, em estado terminal, afectado pelo vírus da SIDA.Neste filme de mulheres, as personagens femininas, todas inspiradas na genial romancista Virginia Woolf, não são nada parecidas com as denominadas Senhoras da nossa melhor sociedade, mulheres exteriormente dignas, bem vestidas, bem casadas, respeitáveis e moralmente irrepreensíveis. Pelo contrário, as mulheres do filme As Horas fazem da indignidade uma virtude e por isso nos parecem tão incómodas, tão estranhas, tão medonhas e tão dignas da nossa admiração.A conclusão que se pode tirar do filme é que viver com as mulheres é um inferno. O problema é que viver sem as mulheres é igualmente um inferno. Mas ver o filme As Horas, mesmo com muitas mulheres no ecrã, não é um inferno, pois trata-se de um óptimo filme, com fulgurantes interpretações. O filme é tão literário e tão inteligente que até parece um filme europeu. Mas hoje em dia na Europa, se exceptuarmos Pedro Almodóvar, que com o genial Fala com Ela também ganhou um Óscar, já não se fazem filmes com a classe de As Horas.A cerimónia da atribuição dos Óscares teve o seu momento mais alto com a aparição em palco de todos os actores e actrizes vencedores de Óscares, numa cerimónia comovedora, que nos emocionou até às lágrimas. É que tivemos a honra e o privilégio de ver certos actores e certas actrizes, que já julgávamos há muito tempo debaixo da terra. Alguns são com certeza tão velhos que já devem ter atingido os noventa ou até mesmo os cem anos.Mas no meio daquela velharia toda havia muitas garotas vencedoras de Óscares extremamente sedutoras. E ao fim e ao cabo as velhas actrizes também já foram boas actrizes e boas atrás. De qualquer maneira, as estrelas de Hollywood são assim: iluminam o nosso firmamento cinéfilo até muito tarde e continuam a brilhar intensamente mesmo em tempo de guerra.




FILMES GAYS E POLITICAMENTE INCORRECTOSNA CERIMÓNIA DE ENTREGADOS ÓSCARES DE 2006


Ao contrário do ano passado, em que o filme Million Dollar Baby foi o vencedor incontestado, este ano houve bastante equilíbrio na distribuição dos Óscares principais, os chamados Óscares artísticos. Claro que os Óscares técnicos também são importantes, pois não é possível fazer filmes sem guarda-roupa, sem make-up, sem captação de som, sem decoração, sem iluminação, etc., etc., etc.Mas não há dúvida de que na cerimónia da distribuição dos Óscares as categorias técnicas têm uma importância secundária. Quanto às categorias artísticas, como dizíamos no princípio deste artigo, não houve nenhum filme que tivesse arrasado a concorrência. E assim temos que atribuir o primeiro lugar a dois filmes: O Segredo de Brokeback Mountain e Colisão. O primeiro recebeu os Óscares relativos ao melhor realizador e ao melhor argumento adaptado e o segundo recebeu os Óscares relativos ao melhor filme e ao melhor argumento original.Os grandes vencidos desta cerimónia de distribuição dos Óscares foram, sem dúvida, o filme Munique, de Steven Spielberg, e o filme Boa Noite, e Boa Sorte, de George Clooney, já que o filme Capote, também nomeado para a categoria de melhor filme, não se pode considerar propriamente um vencido, pois recebeu o importantíssimo Óscar de interpretação do melhor actor principal.De salientar desde já que todos os filmes nomeados para os Óscares nas categorias principais são filmes de grande qualidade e de alta craveira artística, o que mostra perfeitamente que o cinema de Hollywood não é só aquele cinema de efeitos especiais, pipocas e entretenimento a que o querem reduzir alguns dirigentes cineclubistas viseenses fanáticos e incultos que até já tiveram o descaramento de expressar essa opinião num jornal local.Aliás, esses dirigentes cineclubistas não são apenas fanáticos e incultos, são também incoerentes, pois nós visionámos um dos filmes vencedores desta cerimónia da distribuição dos Óscares, o Colisão, numa sessão do Cine Clube de Viseu. Estranhamente, o filme Colisão, que já se pode ver há muito tempo em formato DVD, só depois da sua exibição no Cine Clube de Viseu é que estreou nos Cinemas Lusomundo do Fórum de Viseu.É curioso constatar que os únicos filmes candidatos aos Óscares nas categorias artísticas exibidos nos Cinemas Lusomundo até à altura em que escrevemos este artigo foram o já referido Colisão, de Paul Haggis, e o Munique, de Steven Spielberg. E assim, um filme como O Segredo de Brokeback Mountain, que era o principal candidato aos Óscares, pois era o filme com mais nomeações, ainda não foi exibido nos Cinemas Lusomundo do Fórum de Viseu. Pelos vistos, Viseu continua a ser considerada uma cidade culturalmente atrasada em termos cinematográficos e nessa medida os senhores de Lisboa só mandam para cá, de uma maneira geral, filmes menores. E quanto a alguns bons filmes, apenas por cá se estreiam tarde e a más horas.Esta situação não se compreende, pois o filme O Segredo de Brokeback Mountain fez importantes receitas de bilheteira nos Estados Unidos da América, tendo até já superado o total das receitas do filme Million Dollar Baby, vencedor no ano transacto. Por estranho que possa parecer, o êxito comercial do filme O Segredo de Brokeback Mountain não se limitou às grandes áreas urbanas da América. Teve também um grande impacto na América profunda. O filme é evidentemente um filme gay, mas é sobretudo uma belíssima história de amor entre dois vaqueiros.Quanto ao filme Colisão, é um filme que aborda o lado negro de uma cidade que nós visitámos, aquando da nossa estadia na Califórnia, e onde estivemos vários dias. Mas a Los Angeles onde nós estivemos é a Los Angeles de Hollywood, da downtown e da praia de Santa Mónica.Com efeito, nós estivemos hospedado num dos bons hotéis de Los Angeles, o Marriot, na Figueroa Street, mesmo no centro da enorme cidade de Los Angeles. Para visitarmos Hollywood e a praia de Santa Mónica tivemos que ir de metro e de autocarro, respectivamente, pois Los Angeles é uma das maiores cidades dos Estados Unidos.Por todas estas razões, a Los Angeles que nós vimos no filme Colisão é uma Los Angeles diferente daquela que vislumbrámos na nossa estadia: é a Los Angeles do crime, do racismo e da miséria, não é a Los Angeles das pessoas de bem que nós conhecemos.Em relação ao filme Capote, a atribuição do prémio de melhor actor principal a Philip Seymour Hoffman era de tal maneira esperada que a revista Time até dizia que só se um asteróide destruísse a terra é que este actor não levava para casa o Óscar pela interpretação do filme Capote.Nós admiramos muito o escritor Truman Capote e gostamos imenso da sua obra-prima, o romance A Sangue Frio, um romance de não ficção sobre quatro crimes horrendos ocorridos no Estado do Kansas. O filme Capote é uma justa homenagem a um homem que teve a coragem de se assumir como homossexual e a um escritor genial.Todos estes filmes que referimos são filmes muito bons, o que prova que o cinema de Hollywood está vivo e recomenda-se e que os seus detractores são pessoas intelectualmente limitadas e cheias de preconceitos.

O FILME COM MAIS NOMEAÇÕES
O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN


O Segredo de Brokeback Mountain era um dos filmes que nós aguardávamos com mais ansiedade. Com efeito, O Segredo de Brokeback Mountain é um filme que nós sabíamos ter uma temática totalmente inovadora, podendo mesmo dizer-se que introduzia uma revolução num género cinematográfico, o western, que se caracterizava pela total afirmação machista dos seus heróis.
E esta característica machista é tão verdadeira que nunca ninguém pôs em dúvida, por exemplo, a virilidade e a masculinidade do intérprete máximo dos filmes de cowboys. Estamos a referir-nos, obviamente, a John Wayne, que não foi apenas actor de westerns, que interpretou aliás toda a espécie de filmes e que em todos os géneros cinematográficos foi um actor genial.
Não obstante Freud ter escrito os seus ensaios sobre a temática da sexualidade há mais de um século, somos tentados a dizer que John Wayne era um homem cem por cento, embora nós saibamos que isso não é verdade, pois qualquer homem tem uma parte masculina e uma parte feminina. E com as mulheres passa-se a mesa coisa, já que também elas, além da parte feminina, têm igualmente uma parte masculina.
O western é portanto o género cinematográfico em que a masculinidade é mais notória e mais afirmativa e por isso um filme como O Segredo de Brokeback Mountain representa uma autêntica revolução na história de um género que foi sempre relativamente conservador e que por isso mesmo foi um dos géneros cinematográficos mais populares não só nos Estados Unidos da América como no resto do mundo.
Acresce ainda o facto de O Segredo de Brokeback Mountain ter sido o filme candidato aos Óscares com mais nomeações e de ter recebido os dois importantíssimos Óscares da melhor realização e do melhor argumento adaptado. Todas estas circunstâncias aguçaram, como já dissemos, a nossa expectativa em ver o filme, mas infelizmente os Cinemas Lusomundo do Fórum de Viseu não o exibiram, o que não se compreende, dadas as enormes receitas que o filme estava a fazer na altura da sua estreia.
Tivemos que aguardar portanto pelo lançamento do filme em DVD para o poder visionar. E desde já aconselhamos os nossos leitores e o público em geral a comprarem ou a alugarem o DVD de O Segredo de Brokeback Mountain, pois é realmente um filme absolutamente fabuloso.
É um filme feito por Ang Lee, um realizador homossexual, é um filme evidentemente homossexual, tem obviamente cenas de sexo e de amor entre os dois personagens principais, mas é também um filme que nos mostra todo o drama e toda a tragédia que é a vida de dois homossexuais que se amam no meio de uma sociedade e de uma moral reaccionárias e puritanas, como era a sociedade e a moral na região dos Estados Unidos da América onde os acontecimentos narrados no filme supostamente tiveram lugar.
E é assim que um amor e uma paixão entre dois vaqueiros não têm qualquer possibilidade de realização através do casamento ou de uma união de facto séria, reconhecida pela lei e aceite pela sociedade, pois a sociedade e a moral retrógradas em que estão inseridos não permitem tais opções. Aliás, os actos de amor por eles praticados às escondidas são qualificados pelas mulheres de ambos como porcarias, nada mais do que porcarias.
Convém acrescentar que ambos são casados e que ambos têm filhos legítimos e que optaram conscientemente pela condição oficial de maridos heterossexuais. E é essa vida aparentemente normal com que eles disfarçam a sua condição de homossexuais que vai adiando o desenlace final.
O que é curioso é que eles também estão marcados pelo ferrete da moral puritana e reaccionária que os rodeia e daí que tenham também no fundo a mesma opinião desfavorável acerca deles próprios que os outros têm. E é assim que no livro em que o filme é baseado, depois da primeira relação entre os dois, eles preocupam-se em dizer um ao outro que não são paneleiros, o que mostra que não se sentem muito bem depois do acto que praticaram.
Convém dizer que a acção do filme se situa em pleno século XX e que os cowboys não são afinal cowboys, são na realidade sheepboys, pois guardam rebanhos de ovelhas. Vivendo como vivem em pleno século XX, os sheepboys não se limitam a viver no meio da natureza e dos animais, também se deslocam de automóvel, também vêem televisão e também passam grande parte do seu tempo em aglomerados urbanos.
Mas a paisagem totalmente rural de Brokeback Mountain onde a paixão entre os dois eclode lembra instintivamente a paisagem dos westerns do genial realizador John Ford. E embora um dos amantes, o Ennis del Mar, personagem interpretado na perfeição pelo actor australiano Heath Ledger, não leve no final as cinzas do seu amado Jack Twist para Brokeback Mountain, é para lá, para essa paisagem fordiana limpa de preconceitos, que se dirige a sua e a nossa esperança num mundo melhor, mais puro, mais feliz e mais civilizado, onde cada um possa assumir livremente a sua condição humana, na plenitude da sua afirmação sexual.

OS ÓSCARES DE 2007(PRIMEIRA PARTE)
A NOITE DE GLÓRIADE MARTIN SCORSESE


Nesta crónica sobre a cerimónia da entrega dos Óscares do ano de 2007, gostaríamos em primeiro lugar de manifestar a nossa concordância pela atribuição dos Óscares principais ao realizador Martin Scorsese. O célebre realizador nova-iorquino tem uma longa filmografia e é sem dúvida um dos melhores realizadores americanos do nosso tempo.A atribuição este ano de quatro Óscares ao filme Entre Inimigos foi um acto de inteira justiça para com Martin Scorsese, que já tem muitos filmes geniais no seu longo percurso como realizador de cinema. Aliás o filme Entre Inimigos até está em total sintonia com as preferências da Academia, pois é um filme feito num grande estúdio e produzido segundo o modus operandi de Hollywood e não nas margens do sistema.É claro que Scorsese tem filmes muito melhores que o filme Entre Inimigos. E assim cumpre-nos desde já destacar os filmes Taxi Driver, O Touro Enraivecido, A Última Tentação de Cristo e Tudo Bons Rapazes. E estes são apenas alguns exemplos de obras-primas absolutas que assomam à nossa memória no meio de uma longa filmografia com algumas obras menores, mas que tem mantido, de uma maneira geral, um nível muito elevado.Mas a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood tardou em reconhecer o mérito de Scorsese, que era o único realizador, entre os grandes realizadores do cinema americano, que ainda não tinha recebido qualquer Óscar. E talvez para se penitenciar, a Academia até tratou de organizar de uma forma carinhosa a entrega do Óscar a Martin Scorsese, encarregando alguns dos seus amigos e companheiros de percurso de lhe entregarem o Óscar.E foi bonito de ver a alegria de Francis Ford Coppola, de Steven Spielberg e de George Lucas no momento da entrega da estatueta e nos momentos que se seguiram. Na fotografia deste acontecimento, que apareceu em todos os meios de comunicação social, estão quatro dos grandes génios do cinema americano.E dizemos quatro dos grandes génios do cinema americano, porque falta Woody Allen e falta também Clint Eastwood para que nessa fotografia estejam reunidos todos os melhores realizadores do cinema americano. Clint Eastwood foi aliás um dos perdedores da noite da entrega dos Óscares, pois o filme Cartas de Iwo Jima era o grande favorito para ganhar o Óscar de melhor realizador.Mas muito embora o filme Cartas de Iwo Jima seja um dos melhores filmes que vimos em toda a nossa vida e seja um filme genial, nós entendemos que desta vez Scorsese merecia fazer o pleno e ser assim o vencedor incontestado da noite dos Óscares. E viver assim o seu momento de grande felicidade e de grande alegria. E como a felicidade e a alegria dão para tudo, até teve uma frase de fino humor, própria de um homem de grande classe, quando disse: “Por favor, confirmem o envelope para ver se isso está mesmo certo.”.A cerimónia da entrega dos Óscares no Teatro Kodak de Los Angeles é uma cerimónia que sempre nos emocionou muito, especialmente depois da visita que fizemos a Los Angeles e a Hollywood. É que nessa visita também visitámos o Teatro Kodak e também saímos de lá com um Óscar, mas evidentemente que tivemos que comprar o Óscar numa loja de Hollywood.Mas a cerimónia da entrega dos Óscares deste ano teve um encanto especial por o vencedor ter sido Martin Scorsese que é um realizador que amamos muito. Nós até podemos dizer que somos um fervoroso fã de Scorsese, pois possuímos todos os DVDs de Scorsese editados em Portugal e já vimos todos os seus filmes várias vezes.Há realizadores que são com certeza mais importantes no que concerne à evolução das formas cinematográficas, como é o caso de Steven Spielberg e de George Lucas, mas Scorsese está mais próximo de nós, nós gostamos muito dele, é mesmo um dos nossos cineastas de cabeceira. E por isso mesmo a noite da entrega dos Óscares não foi só a noite de glória de Scorsese. Foi também a noite de glória de todos aqueles que como nós amam muito o cinema de Scorsese.

CINEMA AMERICANO PARA JOVENS,
SAD E TEEN SPIRIT

O cinema que se faz há já alguns anos nos Estados Unidos da América é um cinema predominantemente feito para jovens, pois são estes que constituem a maior fatia do público que frequenta as salas e que por isso mesmo têm um papel importantíssimo no êxito ou no fracasso de um filme.
Mas este cinema para jovens não é visto apenas por jovens. Com efeito, hoje assiste-se, entre o público em geral, ao culto desses filmes, que por isso mesmo são objecto de crítica e de estudo nas melhores revistas de cinema. Este culto até já tem um nome em França, syndrome adolescence durable, também conhecido pela sigla SAD, que é uma transplantação para a pátria dos Cahiers du Cinema do teen spirit americano.
Nós pensamos que é muito importante para os habitantes de um continente gasto e envelhecido por muitos séculos de história, como é a Europa, rejuvenescer com a visão desses filmes, cujas obras primas incontestadas são Os Marginais e as Virgens Suicidas, respectivamente de Francis Ford Coppola e da sua filha Sofia Coppola.
A maior parte desses teen movies são filmes que nos mostram lindos estudantes na vivência primaveril de uma fresca, risonha e colorida adolescência, que é preciso prolongar indefinidamente, já que depois vêm as enormes chatices que são procurar emprego, trabalhar, casar, constituir família, envelhecer e morrer.
O melhor, portanto, que temos que fazer é identificarmo-nos com os boys e com as girls desses filmes virginais, procurando ser jovens até esticarmos o pernil, ainda que para tal tenhamos que tomar viagra em quantidades industriais.
Manter a chama da juventude mesmo para além da meia idade é o objectivo do movimento SAD, a que os críticos e redactores da melhor revista de cinema do mundo, os míticos Cahiers du Cinema, dão muito mais que um simples aval, pois o SAD é actualmente para os Cahiers um verdadeiro programa cinéfilo e uma autêntica profissão de fé.
E assim, da mesma maneira que os Cahiers há trinta e tal anos eram maoistas, hoje são SAD, o que prova mais uma vez que a luta de classes e o marxismo são fenómenos ultrapassados, que há muito tempo entraram no caixote do lixo da história. Aliás, à semelhança do que acontece com os Cahiers, também a pátria do maoismo, a China, é nos dias de hoje um país capitalista e qualquer dia também é SAD.
Portanto, um cinéfilo que queira estar a la page deve ler a Bíblia da sacrossanta irmandade do cinema, que são os Cahiers, e deve frequentar assiduamente as salas que exibem filmes americanos, que são aliás quase todas as salas que existem no planeta Terra.
O nosso amigo e camarada cinéfilo SAD lucrará imenso com a sua esclarecida opção, pois em vez de ver uns chatíssimos filmes europeus, com os seus longos e entediantes planos-sequência e as suas cinzentas e bolorentas literatices, curte preferencialmente filmes jovens e dinâmicos, com adolescentes bonitos, garotas boas de todos os dias, histórias engraçadas e artísticos e espectaculares efeitos especiais.
Isto não quer dizer que o cinéfilo SAD não vá de vez em quando a uma ou outra sessão de um dos inúmeros cine clubes que pululam no nosso continente, pois a fauna que dirige e frequenta esses clubes de cinema também é uma fauna cinéfila, embora antiquada e obsoleta.
O nosso cinéfilo SAD deve entrar discretamente no cine clube e depois de ocupar o seu lugar deve adormecer rapidamente ao fim da primeira bobina e deve também ressonar ruidosamente, em sinal de protesto contra a política de exibição dos cine clubes europeus, que há muitos anos se limitam a programar filmes senis para a terceira idade.
Depois desta infeliz experiência cineclubista, o nosso camarada cinéfilo só tem duas maneiras de se recompor do estado de sonolência em que ficou mergulhado: ou vai a algum bar e apanha uma valente bebedeira ou então vai para casa e vê durante toda a noite no seu televisor alguns dos filmes SAD em DVD que é obrigatório um cinéfilo SAD possuir.
E assim, títulos como A Praia, Romeu e Julieta, Doidos por Mary, Peggy Sue casou-se, Regresso ao Futuro, Clube dos Poetas Mortos, American Pie, Um Susto de Filme e muitos outros fazem parte de uma longa lista de obras-primas que o cinéfilo SAD deve obrigatoriamente ver.
Embora estes filmes não sejam na sua totalidade teen movies stricto sensu, todos eles são leves, frescos e descontraídos e nessa medida fazem lembrar a nouvelle vague que a revista Cahiers du Cinema, ontem como hoje na vanguarda do cinema, impulsionou com os textos e com os filmes dos seus principais redactores e críticos.
Mas a nouvelle vague morreu há muito tempo e o mais genial dos seus criadores, François Truffaut, também morreu. Já não temos a nouvelle vague, mas temos o SAD. E já agora, cumpre pôr em relevo a enorme importância que os filmes SAD tiveram no que se refere ao regresso dos espectadores às salas de cinema, depois de uma desertificação que muitos profetas da desgraça anunciaram como a morte da sétima arte.
Felizmente que assim não aconteceu e que o cinema está cada vez mais vivo e mais jovem, com o cinema dos Estados Unidos na crista da onda e com a globalização, que felizmente também é cultural, a levar a todo o mundo o SAD, os teen movies e o teen spirit americano.

CINEMA ERÓTICO E CINEMA PORNOGRÁFICO

O cinema erótico e o cinema pornográfico fazem parte de um vasto leque de géneros cinematográficos, nos quais também se incluem o cinema cómico, o cinema de terror, o cinema policial, o cinema de ficção científica, o western, o musical e mais alguns outros.
Convém desde já assinalar que alguns destes géneros, tais como o western e o musical, já há muito tempo que entraram em crise, de tal maneira que os filmes que hoje se fazem enquadrados nestas categorias são meras revivescências de um passado já morto.
Estranhamente ou talvez não, de todos os géneros cinematográficos, os que ainda hoje resistem melhor à erosão do tempo são o género erótico e o género pornográfico. E à semelhança do que acontece com todos os restantes géneros, é Hollywood quem está à frente na produção dos filmes enquadrados nestas duas categorias, embora seja em França que se lapidam os diamantes mais rutilantes do cinema do sexo.
Uma película recente, Boogie Nights (Noites de Prazer), de Paul Thomas Anderson, mostra bem os bastidores da produção dos filmes pornográficos, que ao fim e ao cabo são filmes como quaisquer outros, no que respeita à sua planificação, à sua filmagem, à sua montagem e à sua distribuição, só com a diferença de que em relação a este último aspecto estes filmes apenas passam nos circuitos paralelos. Mas o mesmo acontece com outros filmes não distribuídos pelas majors norte-americanas.
Não obstante todos estes condicionalismos, há filmes pornográficos que extravasam o submundo do género, conseguindo impor-se a todo o povo cinéfilo. Destes, o mais célebre é o mítico Garganta Funda, com um tema forte, insólito e original, já que a personagem principal goza intensamente com o sexo oral, pois tem um grande clitóris na garganta.
Mas há outros filmes pornográficos também de cinco estrelas, como é o caso dos filmes da série Emanuelle, com a doce e apetitosa Silvia Kristel, embora estes filmes sejam soft pornos, próximos do cinema erótico, e não hard cores.
Outro filme igualmente importante é o Romance, da inefável e erudita realizadora francesa Catherine Breillat, que se pode considerar um filme filosófico-pornográfico, pois a personagem principal, uma bela e deslumbrante rapariga casada, debita suculentas tiradas filosóficas enquanto é beijada, apalpada, lambida e possuída pelos seus amantes e ainda continua a filosofar depois dos coitos.
Por último há que referir o filme também francês Baise-moi, que em português, traduzido à letra, se chamaria Fode-me, de Virginie Despentes, que foi exibido, numa das noites longas da SIC, a altas horas da madrugada, e que nós gravámos para depois o vermos a horas decentes.
É um filme político-pornográfico rigorosamente fabuloso, pois associa uma pornografia agressiva e criminosa à revolta em relação à sociedade burguesa de duas garotas, muito atraentes e muito perigosas, dispostas a tudo para partir em cacos a família, o Estado, a moral e as leis do mundo reaccionário em que elas se recusam a viver.
No entanto, de uma maneira geral, os filmes pornográficos não têm uma temática, nem um enredo, nem uma substância semelhantes às dos filmes normais, pois limitam-se a reproduzir relações sexuais filmadas mecanicamente e nada mais.
É o caso dos filmes pornográficos de consumo corrente, os quais acabam por chatear as pessoas, que se deslocam às salas escuras ou se sentam diante de um televisor em busca de uma boa história com sexo e não somente de uma interminável série monótona de actos sexuais.
E realmente nós até concordamos que a maior parte dos filmes pornográficos são aborrecidos e repetitivos, pois nos mostram relações sexuais muito prolongadas, tornando-se obviamente maçadores quando não há uma história por detrás.
Ainda por cima, os realizadores destes filmes, em vez de filmarem em planos gerais a beleza dos corpos nus dos actores e das actrizes em harmoniosos movimentos eróticos, filmam em grandes planos os órgãos genitais em plena função, o que realmente não é nada estético, pois ver durante hora e meia densas florestas de pêlos à volta de enormes sexos e de abissais vaginas torna-se entediante e deixa de excitar ao fim da primeira bobina.
Por isso mesmo, nós preferimos os filmes eróticos. Embora estes filmes também apresentem relações sexuais explícitas, não as filmam da mesma maneira e nem sequer é obrigatório que um filme erótico contenha essas relações. É o caso, por exemplo, do filme Strip Tease, em que nós assistimos a todo o filme permanentemente excitados, apenas com a expectativa de vermos a escaldante actriz Demi Moore completamente nua.
A apetitosa sex symbol aparece mesmo nua e não com uma veste a imitar o nu e por isso recebeu um enorme cachet e teve que fazer uma operação plástica ao abdómen. Com Strip Tease, estamos no mundo de uma sexualidade light» que excita mas não envergonha.
E daí que as pessoas cultas e finas não desdenhem ver filmes eróticos e que as pessoas incultas e grosseiras optem por filmes pornográficos. É tudo uma questão de educação e de cultura. Mas, cultura e educação à parte, do que toda a gente gosta é mesmo de sexo e por isso nós pensamos que os géneros erótico e pornográfico são os géneros mais amados por todos, embora as pessoas guardem segredo desse a



CINEMA PORTUGUÊS



MANOEL DE OLIVEIRA, UM CINEASTA PORTUGUÊS EM ACELERADA DECADÊNCIA(PRIMEIRA PARTE)



“No Brasil, uma octogenária filmou durante dois anos, da janela do seu apartamento, o movimento diário de vendedores e de consumidores de droga da favela. As trinta e três horas de gravações foram entregues à polícia e levaram à prisão de mais de quarenta pessoas. Isto é um grande exemplo para todos, e mais especificamente para o Manoel de Oliveira. Afinal, uma pessoa de idade com uma câmara de filmar pode fazer coisas úteis.”Este texto, entre comas, não é da nossa autoria. É transcrito, com a devida vénia, do jornal Público, de 2 de Setembro de 2005, mas é um texto com o qual concordamos inteiramente, pois assenta como uma luva na última fase da carreira de Manoel de Oliveira. Realmente, os filmes que Manoel de Oliveira fez a seguir ao Vale Abraão são filmes que nada têm lá dentro, a não ser diálogos pomposos e retóricos e longos planos-sequência de um academismo serôdio. São, em suma, umas verdadeiras inutilidades.É certo que os defensores de Manoel de Oliveira se recusam a considerar os diálogos dos seus últimos filmes como pomposos e retóricos e negam também que o cinema mais recente do venerando cineasta tenha alguma coisa a ver com qualquer academismo. E é certo também que um crítico de cinema culto e inteligente, como é, indubitavelmente, João Bénard da Costa, se transforma estranhamente num reverente adulador quando se põe a criticar o cinema de Manoel de Oliveira.E só assim se compreende que para João Bénard da Costa todos os filmes de Manoel de Oliveira sejam obras-primas de cinco estrelas, incluindo nesse lote de pérolas cinematográficas aquelas obras mais medíocres que toda a gente vê à distância que são projectos cinematográficos de menor valor.Infelizmente, João Bénard da Costa não é uma voz isolada nesta adoração acrítica ao suposto mestre, pois são muitos os críticos de cinema que adoram acriticamente o mítico cineasta. E este fenómeno de menor uso da razão na actividade crítica não se verifica apenas em Portugal.Nós somos leitores assíduos dos Cahiers du Cinema e por isso estamos a par da posição crítica da revista de cinema francesa em relação a Manoel de Oliveira. E notamos com grande estranheza que qualquer filme de Manoel de Oliveira é considerado pelos críticos dos Cahiers du Cinema como uma obra-prima, à semelhança do que acontece em Portugal com João Bénard da Costa.Em relação a João Bénard de Costa, esta crítica irracional de elogio constante ao cinema de Manoel de Oliveira ainda se compreende. Com efeito, o João Bénard da Costa tem entrado em inúmeros filmes de Manoel de Oliveira, podendo até dizer-se que ele e o Luís Miguel Cintra são os actores mais utilizados pelo prolixo cineasta. E assim já se entendem melhor os elogios. No fundo, João Bénard da Costa paga com elogios os curtos e indigentes desempenhos como actor que Manoel de Oliveira lhe tem proporcionado.Já em relação aos Cahiers du Cinema, a aceitação acrítica que Manoel Oliveira tem no seio da revista é mais difícil de explicar. Claro que nós sabemos que Manoel de Oliveira tem à sua volta um poderoso lóbi e isso talvez explique não só o bom ambiente que tem na revista francesa como também os inúmeros prémios que tem recebido nos principais festivais internacionais.Tudo isto é muito grave, pois tudo isto se passa no seio de uma revista reputada em todo o mundo e que já foi considerada a Bíblia dos cinéfilos. Tudo isto é muito grave também, porque nos leva inevitavelmente à conclusão de que alguns dos críticos mais respeitados em todo o mundo não são pessoas sérias e que até os críticos dos Cahiers du Cinema enfermam dos mesmos defeitos da generalidade dos críticos portugueses.Que alguns críticos portugueses não são sérios já nós o sabíamos. Com efeito, quando frequentámos a Escola Superior de Cinema do Conservatório Nacional, lembramo-nos perfeitamente do Eduardo Prado Coelho, nosso professor da cadeira de Semiologia do Espectáculo, ter dito numa das aulas que os cineastas portugueses, quando realizavam um filme, convidavam normalmente alguns críticos amigos para desempenharem pequenos papéis, a fim de não fazerem uma apreciação negativa do filme, quando este tivesse a sua estreia nas salas comerciais.Toda esta refinada mistificação contribui para que Manoel de Oliveira tenha um estatuto de génio em Portugal e no estrangeiro. E também contribui para que se continuem a subsidiar com dinheiros públicos, saídos dos bolsos de todos nós, filmes caríssimos, cheios de vedetas estrangeiras. E o que é mais grave é que quase ninguém vê esses filmes. E é este o estado do cinema e da crítica cinematográfica em Portugal.Concluímos este artigo no próximo número.



MANOEL DE OLIVEIRA, UM CINEASTA PORTUGUÊSEM ACELERADA DECADÊNCIA

(SEGUNDA PARTE)



Manuel de Oliveira é um cineasta com uma idade já muito avançada, já muito perto dos cem anos, sendo, portanto, muito natural que tenha actualmente as suas capacidades mentais bastante diminuídas. No entanto, a sua acelerada decadência já começou há muito tempo, já há mais de vinte anos. E começou precisamente com o filme A Caixa (1994), um filme menor, baseado numa peça de Prista Monteiro, um autor teatral português insignificante, com Luís Miguel Cintra no principal papel. Mas no período áureo da sua carreira Manuel de Oliveira fez vários filmes muito bons, entre os quais destacamos os filmes que referiremos a seguir.Em primeiro lugar cabe-nos destacar Aniki-Bobó (1942), um filme poético e ligeiro, de uma grande beleza, que nos narra as vivências de algumas crianças nas ruas do Porto. Em segundo lugar cabe-nos destacar O Acto da Primavera (1963), que é a filmagem de uma peça sobre a paixão de Cristo representada durante a semana santa pela população da aldeia transmontana da Curalha. Nós vimos este filme aquando da sua estreia no Cinema Império, em Lisboa, e guardamos dessa visão uma recordação inolvidável da sua frescura, da sua espontaneidade e da genial utilização da cor que no filme Oliveira faz.Outros filmes a destacar são O Passado e o Presente (1971), Benilde ou a Virgem Mãe 1975) e o Amor de Perdição (1978). Este último filme, que tem a duração de mais de quatro horas, é um longo e lento desenrolar de planos, que anuncia o pior Oliveira, aquele cujos filmes dão vontade de dormir. Mas não obstante o Amor de Perdição ser uma enorme seca, ainda assim tem momentos fulgurantes, que levaram o genial crítico de cinema Serge Danei a considerá-lo um dos melhores filmes de todos os tempos. Enfim, exageros toda a gente os tem.O último filme a destacar é o Vale Abraão (1993), baseado num romance de Agustina Bessa-Luís, com a belíssima actriz Leonor Silveira no papel principal. Antes desse filme, Manoel de Oliveira tinha realizado um projecto megalómano, que foi um completo falhanço. Estamos a referir-nos ao Non ou a Vã Glória de Mandar (1990), um filme de grande orçamento para a época, com um dos seus actores habituais, Luís Miguel Cintra, no papel principal.Este filme, que trata das derrotas e dos principais desastres da história de Portugal, é quase um filme cómico, já que nele aparecem muitas batalhas, que dão vontade de rir, pois Manuel de Oliveira não sabe filmar batalhas. Ainda há pouco tempo vimos em DVD o genial filme de David Griffith O Nascimento de uma Nação e ficámos estupefactos com a maneira épica, espectacular e ao mesmo tempo cinematograficamente deslumbrante com que Griffith filmou as batalhas que pontuam o filme.Comparando os dois filmes, é incrível constatar que Griffith filmava melhor as batalhas no princípio do século passado do que Manoel de Oliveira as filmava quase no fim do mesmo século. Até dá a impressão de que o cinema não progrediu nada, só regrediu. Mas tudo isto se explica, pois Griffith, para além de ter inventado a linguagem das imagens em movimento, é um génio eterno do cinema, enquanto Manoel de Oliveira é um cineasta apenas um pouco acima da média, que ainda por cima, na altura em que fez o filme, estava prestes a entrar num período de acelerada decadência.Neste último período de acelerada decadência, Manoel de Oliveira, à semelhança de muitas mulheres que ficam com mais desejos sexuais depois da menopausa, tem sido excepcionalmente fértil, com uma média de quase um filme por ano, mas a verdade é que nesta época mais recente quase só saíram abortos da cabeça de Manoel de Oliveira.São filmes na sua grande maioria adaptados de romances de Agustina Bessa-Luís e até se dá o caso da maior parte desses filmes terem como intérpretes grandes vedetas do cinema internacional, tais como John Malkovich, Catherine Deneuve, Michel Piccoli e Irene Papas.Num desses filmes até saímos a meio, pois não aguentámos vê-lo até ao fim. Estamos a referir-nos ao filme Um Filme Falado, interpretado por um elenco de luxo. Neste filme é tal o convencionalismo da realização e é tal a vacuidade dos diálogos que mete pena ver actores e actrizes de enorme renome metidos no meio de um filme tão medíocre, com pretensiosas tiradas políticas, filosóficas e morais que são autêntica conversa da treta a encher o filme do princípio ao fim.E é assim que um cineasta, que já foi considerado um cineasta da palavra em filmes importantes como o Amor de Perdição e o Benilde ou a Virgem Mãe se arrasta numa total impotência criativa, de tal maneira que hoje, mais que um cineasta da palavra, Manoel de Oliveira deve ser considerado um cineasta da treta.



JOÃO BÉNARD DA COSTA, O SALAZAR DA CINEMATECA

(PRIMEIRA PARTE)


Desde já esclarecemos os nossos leitores de que o João Bénard da Costa é um democrata e um antifascista e que portanto não é por motivos políticos que o podemos comparar a António de Oliveira Salazar, que, como se sabe, odiava a democracia e que na sua prática política foi um ditador e um fascista. Além do mais, o João Bénard da Costa é uma pessoa muito culta e com uma grande erudição, embora às vezes escreva sobre assuntos acerca dos quais percebe muito pouco.É o caso, por exemplo dos artigos que costuma escrever no Público sobre artes plásticas, em que se limita a fazer uma apreciação meramente iconográfica e superficial de certas obras de arte que teve oportunidade de contemplar nas suas múltiplas viagens pelo estrangeiro, principalmente por Itália.Mas mesmo em relação aos escritos sobre cinema, o João tem-se limitado ultimamente a escrever artigos em memória de actrizes, de actores e de cineastas falecidos, numa escrita necrológica de biografias de algumas pessoas ilustres da sétima arte, mais própria de um jornalista tarefeiro especialista em obituários do que de um eminente crítico de cinema.Nós conhecemos o João quando frequentámos a Escola Superior de Cinema do Conservatório de Lisboa, onde foi nosso professor de história. Não história do cinema, mas história em geral. A opinião com que dele ficámos não foi a melhor, pois o João pareceu-nos na altura um sujeito pedante e pretensioso. Mas não obstante todos os seus inúmeros defeitos, o João Bénard da Costa tem pelo menos duas virtudes: é cinéfilo e é democrata.Quanto a Salazar, era professor catedrático das Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra na área das Finanças e tinha apenas a cultura inerente ao seu grau académico, quer dizer, percebia de Direito e de Finanças e de pouco mais. Em relação a uma cultura humanista propriamente dita, os seus conhecimentos deixavam muito a desejar.Esta era aliás uma situação semelhante á de muitos licenciados em Direito que nós conhecemos durante aquela parte da nossa vida em que exercemos a advocacia. Esses nossos colegas eram brilhantes advogados e excelentes magistrados, mas fora do campo do Direito não tinham cultura suficiente que lhes permitisse falar com conhecimento de causa de cinema, de literatura, do último filme estreado ou do último romance publicado.Voltemos agora a António de Oliveira Salazar. Como já dissemos no começo deste artigo, Salazar foi um fascista e um ditador. No entanto, tudo isto não seria muito grave se Salazar se tivesse retirado da política depois de ter saneado as finanças portuguesas, bastante abaladas pela balbúrdia, pela anarquia e pelo caos político em que a primeira república mergulhou o nosso país.Mas infelizmente Salazar não se limitou a sanear as finanças portuguesas. Quis manter-se no poder a todo o custo, mesmo quando as condições externas já não lhe eram muito favoráveis. Efectivamente, as derrotas dos nazis alemães e dos fascistas italianos na segunda guerra mundial foram uma derrota também para Salazar.É certo que ele manteve uma política de prudente neutralidade em relação aos beligerantes, mas nós sabemos que essa neutralidade não era igual para os dois lados. Com efeito, todas as simpatias de Salazar iam para os governos ditatoriais da Alemanha e da Itália, com os quais se identificava. E só no fim da guerra, quando já se adivinhava a vitória dos aliados, é que Salazar se decidiu a colaborar, embora contrariado, com as nações democráticas no esforço final da guerra.Na euforia de liberdade que se seguiu ao fim da guerra, estava prevista uma ajuda norte-americana aos democratas espanhóis para derrubarem o ditador Francisco Franco, mas o Presidente Truman acabou por desistir da ideia, devido ao avanço do comunismo na Europa e à instauração de um clima de guerra fria entre os Estados Unidos da América e os seus aliados, por um lado, e a União Soviética e os países comunistas que estavam sob o seu domínio, pelo outro lado.Este clima de guerra fria ajudou Salazar a aguentar-se no poder e até contribuiu para que Portugal entrasse na NATO como membro fundador, o que foi uma proeza inédita de Salazar, pois a NATO apenas incluía países democráticos. Mas Salazar, com a palhaçada das eleições periódicas que entretanto, para inglês ver, promoveu em Portugal, lá conseguiu convencer o mundo inteiro da legitimidade das instituições políticas portuguesas.Salazar ainda logrou sobreviver ao descrédito que internacionalmente lhe trouxe a campanha do grande e corajoso General Humberto Delgado nas eleições presidenciais de 1958. E só saiu finalmente do poder depois de ter caído de uma cadeira na sua residência de férias em São João do Estoril. Tudo isto aconteceu no tempo de um regime ditatorial e por isso só uma queda dramática para trás, batendo com a cabeça no chão, com a consequente incapacidade para o exercício das suas funções de Presidente do Conselho, é que possibilitou a destituição de Salazar e a nomeação de Marcello Caetano para o seu lugar.


JOÃO BÉNARD DA COSTA, O SALAZAR DA CINEMATECA

(SEGUNDA PARTE)


Já há muito tempo que em Portugal vivemos em democracia. Mas certas pessoas não aprenderam nada com a democracia e preferem eternizar-se nos cargos, seguindo o mau exemplo de Salazar. É o caso do João Bénard da Costa, que pelos vistos se quer manter no cargo de Presidente da Cinemateca Nacional. O próprio João Bénard da Costa até já disse, num artigo escrito no jornal Público, que depois da saída dele da Cinemateca seria o dilúvio. Ora esta frase não é nova, até já a tínhamos ouvido antes, precisamente da boca de Salazar, a propósito de uma possível afastamento do ditador da chefia do governo.Segundo parece, a Ministra da Cultura, numa primeira fase, teria decidido não reconduzir o presidente da Cinemateca Portuguesa, em virtude deste ter ultrapassado a idade limite para estar em funções. Mas entretanto surgiu uma petição na Internet que defende a continuação de João Bénard da Costa à frente da presidência da Cinemateca, petição essa que recolheu centenas de assinaturas.Foi depois da aparição dessa petição com centenas de assinaturas na Internet que a Ministra da Cultura, Dra. Isabel Pires de Lima, mudou de ideias e resolveu manter o João Bénard da Costa na presidência da Cinemateca. E em conformidade com esta decisão, a Ministra da Cultura disse que tinha a intenção de convidar o Dr. João Bénard da Costa a ficar e disse também que, caso ele aceite, dada a situação excepcional do ponto de vista legal, faria uma proposta ao primeiro-ministro nesse sentido.A Ministra da Cultura disse ainda que tem o maior apreço pelo trabalho desenvolvido pelo Dr. João Bénard da Costa na Cinemateca e que, por esse motivo, vê com bons olhos a sua continuidade no cargo. Acontece que nem toda a gente é da opinião dos peticionários da Internet ou da opinião, pelos vistos tardia, da Ministra da Cultura.Por exemplo, numa entrevista concedida ao Jornal do Centro e transcrita no jornal do Cine Clube de Viseu, o conceituado crítico de cinema Jorge Leitão Ramos constata que a principal actividade da Cinemateca Portuguesa tem sido a divulgação do grande património internacional da arte cinematográfica e afirma que nisso tem cumprido bem o seu papel.Mas acrescenta que essa não deve ser a principal vocação da Cinemateca Portuguesa. Para Jorge Leitão Ramos a principal função de uma cinemateca deve ser a preservação patrimonial de filmes, fotografias, livros, cartazes, documentação e espólios. E a vocação fundamental da Cinemateca Portuguesa deve ser a de fazer isso em relação ao cinema português. E conclui que no actual modelo de gestão isso não tem sido considerado prioritário.Com o agrado de alguns e com o desagrado de outros, acontece que o João Bénard da Costa já está na Cinemateca há vinte e seis anos, desde 1980, tendo desempenhado as funções de subdirector durante uma década, e desempenhando desde a morte do então presidente Luís de Pina as funções de presidente. Claro que Salazar esteve mais tempo sentado nas cadeiras do poder, mas o João Bénard da Costa, se Deus lhe der longa vida e muita saúde, também para lá caminha.E com as reconduções excepcionais que o trabalho ímpar por ele desempenhado na Cinemateca para alguns justifica, nem vale a pena preocupar-nos com a Cinemateca durante os próximos trinta anos. E quando o João fizer cem anos, será a altura apropriada do Ministério da Cultura o reconduzir mais uma vez e de lhe fazer uma sentida homenagem.O João Bénard da Costa, pelos vistos, quer manter-se no cargo até morrer. Pessoas como esta não respeitam o princípio da renovação dos cargos, querem manter-se o mais longo tempo possível no poder, até caírem de podres ou até caírem da cadeira, tal como aconteceu a Salazar. Mário Soares também queria ser Presidente da República até morrer.Mas em relação a Mário Sores esse desejo de longa vida no poder era muito mais difícil de satisfazer, pois teve que concorrer a umas sempre incómodas eleições presidenciais. E felizmente que a maioria dos eleitores deu a vitória a Cavaco Silva e ainda deu o segundo lugar a Manuel Alegre. Realmente, não era muito interessante eleger pela terceira vez um Presidente da República octogenário.Em relação ao João Bénard da Costa, no entanto, não são necessárias nenhumas eleições. Basta uma petição na Internet favorável à continuação do João como Presidente da Cinemateca Portuguesa, petição essa que funciona como um plebiscito, e a decisão da Ministra da Cultura em reconduzir o homem.E o João até é muito popular, tanto à direita como à esquerda. Com efeito, os peticionários da Internet até põe de parte a sua ideologia e privilegiam acima de tudo o João quando se trata de apoiar o João. E nós também fazemos votos para que o João continue, até cair de podre ou até cair da cadeira, a bem do cinema e da nação.

DVDs.


A GRANDE REVOLUÇÃO DIGITALE O UNIVERSO PUJANTE DOS DVDS


O mercado dos DVDs mostra-se cada vez mais pujante no nosso país, tanto na quantidade como na qualidade dos filmes em formato DVD cujo lançamento é periodicamente anunciado nos órgãos de comunicação social. E desde já alertamos os nossos leitores que ultimamente têm aparecido muitos filmes de grande qualidade em formato DVD.E cumpre referir que a comercialização dos filmes em formato DVD se faz actualmente muito pouco tempo depois da saída dos filmes das salas de cinema, pois o prazo entre a exibição dos filmes nas salas e o lançamento dos mesmos filmes em formato DVD foi ultimamente bastante encurtado.Claro que este encurtamento do prazo tem consequências em relação à exibição dos filmes nas salas, pois um possível candidato a espectador, sabendo que um determinado filme vai estar disponível num curto espaço de tempo em formato DVD, já o não vai ver a uma sala de cinema.Nós consideramos, portanto, errada esta redução do prazo para o lançamento de um filme em DVD, pois é mais um factor, e um factor importante, a contribuir para a desertificação das salas de cinema, que hoje se verifica em Portugal e aliás também em quase todo o mundo.Isto não acontecia com as cassetes vídeo, pois a imagem e o som de uma cassete vídeo são muito inferiores à imagem e ao som de um filme projectado numa sala de cinema. Mas com o DVD é tudo completamente diferente, pois enquanto a imagem de um vídeo VHS é formada por 210 linhas, a imagem de um DVD é formada por 540 linhas. Com mais do dobro das linhas, a imagem de um DVD tem uma definição muito melhor e tem portanto uma qualidade incomparavelmente superior.E quanto ao som de uma aparelhagem completa de DVD, não há qualquer comparação com o som de um vídeo, pois no primeiro caso ele sai de cinco colunas e de um subwoofer, sendo este último também conhecido e designado, em linguagem não técnica, como a coluna dos graves. Com uma aparelhagem de DVD, temos portanto a possibilidade de ter em nossa casa um sistema com seis pistas de áudio, o que é muitíssimo bom, pois inclusivamente há muitas salas de cinema que não têm estas condições.Tudo isto mostra que o presente e o futuro do cinema passam pelo DVD e que portanto o DVD veio para ficar. Esta revolução é de tal maneira esmagadora que nós pensamos que o sistema analógico e o sistema fotográfico vão ser completamente ultrapassados pelo sistema digital. E deste facto também se conclui que a película que se utiliza hoje na quase totalidade das salas de cinema já não tem grande razão de ser.Por outro lado, com o DVD nós podemos ver um filme com maior rigor analítico do que num visionamento normal numa sala de cinema. Efectivamente, com um comando adequado e com um leitor de DVD, podemos facilmente andar com um filme para trás e para a frente, podemos avançar ou recuar capítulos, podemos repetir a visão das sequências mais emblemáticas, podemos analisar uma sequência imagem a imagem, podemos enfim ver um filme de uma maneira mais abrangente e mais profunda.Para além de tudo isto, que já não é pouco, podemos usufruir em DVD todo um conjunto de materiais suplementares, os chamados extras, que não temos qualquer hipótese de ver numa sala de cinema. Destes extras fazem normalmente parte o making of do filme, as entrevistas com os actores e com as actrizes principais, com o realizador, com o produtor, com o argumentista, com o director de fotografia, bem como com alguns outros responsáveis técnicos e artísticos.Ver um filme em DVD é para nós um encantamento e um regresso ao paraíso. Quando vemos um filme em DVD, nós temos a sensação de regressar à Escola Superior de Cinema do Conservatório Nacional e nessa escola de cinema temos a sensação de regressar às aulas de prática cinematográfica na sala da moviola, onde montámos os filmes que realizámos no nosso curso de cinema e onde estudámos muitos filmes, da mesma maneira que actualmente estudamos os filmes mais importantes que vemos em DVD.

DUAS OBRAS-PRIMAS INCONTORNÁVEISEM FORMATO DVD: PAMPLINAS MAQUINISTAE O MUNDO A SEUS PÉS


Dissemos num dos derradeiros artigos que publicámos neste jornal que ultimamente têm aparecido filmes com muita qualidade no mercado dos DVDs. Hoje vamos referir-nos a duas obras-primas incontornáveis, para as quais chamamos desde já a atenção dos nossos leitores. Trata-se de dois filmes americanos fabulosos, que nós consideramos entre os dez melhores filmes de sempre de toda a história do cinema.Os dois filmes que vamos sucintamente analisar são o Pamplinas Maquinista, de Buster Keaton e O Mundo a seus Pés, de Orson Welles. Quanto ao filme de Buster Keaton, podemos dizer que mudou de nome, pois o título pelo qual era conhecido era A General (o nome da máquina), título esse que aliás correspondia ao título original do filme, precisamente The General.Quando agora o filme apareceu em formato DVD com o título Pamplinas Maquinista, nós tivemos dúvidas se seria o mesmo filme que tínhamos visto há mais de trinta anos no canal dois da RTP dos tempos do fascismo, no programa Museu de Cinema, do reaccionário mas culto e cinéfilo realizador e crítico António Lopes Ribeiro.E é efectivamente o mesmo filme. E ainda por cima o DVD do filme é realmente uma versão digital absolutamente fabulosa. Nós efectivamente jamais tínhamos visto as magníficas imagens captadas pelo operador de câmara e director de fotografia Mathew Brady reproduzidas com tão luminoso esplendor.É que o filme, no aspecto estético e visual tem tanta força e tanta plasticidade como a obra-prima de Charlie Chaplin, A Quimera do Ouro, que é também um filme genial feito pelo génio supremo da arte cinematográfica. Mas além do aspecto visual, há que salientar no Pamplinas Maquinista todas as inolvidáveis imagens da guerra da secessão americana, que o filme nos mostra num triplo registo, entre a farsa, a tragédia e a epopeia, absolutamente inovador.A bela figura de homem de Buster Keaton, com um dos mais formosos rostos da história do cinema, aparece-nos neste filme umbilicalmente ligada à sua máquina de comboio, de que ele aliás gostava tanto como da sua namorada. E assim, The General, para além de um incontornável filme de guerra, é também uma das mais belas histórias de amor da história do cinema.Só um cineasta sobredotado como Keaton podia fazer um filme cómico sobre a guerra civil americana e ao mesmo tempo não perder de vista o registo sério que uma guerra necessariamente veicula. Para além do mais, A General é o filme onde Keaton atinge a máxima perfeição no seu cinema à base de gags cuidadosamente planificados e realizados, com a mestria absoluta dos grandes mestres.Quanto ao outro filme, O Mundo a seus Pés, de Orson Welles, que inaugurou a colecção de clássicos em DVD do jornal Público, é um filme admirável, que tem sido considerado pela maior parte dos críticos de todo o mundo como o melhor filme de todos os tempos.Este filme fabuloso conta a investigação levada a cabo por um jornalista para descobrir o sentido da última palavra proferida pelo magnata da imprensa Charles Foster Kane antes de morrer, a célebre palavra ROSEBUD, porque, segundo ele, as últimas palavras de um homem devem explicar a sua vida. A sua investigação leva-o junto de cinco pessoas, que contam a história de Kane de cinco maneiras diferentes.Para além da inovação ao nível do argumento, já referida, da história ser contada a partir de cinco pontos de vista diferentes, o filme de Orson Welles apresenta importantes inovações sob o ponto de vista formal que o tornaram na época um filme absolutamente revolucionário.Essas inovações são a utilização sistemática do plano-sequência, que consiste em filmar uma cena sem a dividir em diversos planos. A divisão de uma cena em diversos planos era a maneira como se fazia até aí a découpage tradicional. Esta inovação deve-se à ligação de Orson Welles ao teatro e à sua visão da cena através da inserção dos actores no cenário.Outra inovação formal é a utilização da profundidade de campo e da técnica das grandes angulares, através das quais são visíveis no ecrã não só as cenas que têm lugar no primeiro plano, mas igualmente as cenas que se desenrolam mais atrás, o que, dada a simultaneidade da apresentação dos acontecimentos, acrescenta ao filme uma grande tensão dramática.Essa tensão dramática é ainda intensificada nas cenas de interiores pela utilização quase permanente das filmagens em contrapicado, as quais criam em todo o filme uma impressão de drama, de conflito e de esmagamento das personagens.Com todas estas inovações formais, que reduzem drasticamente o número de planos do filme e inauguram uma nova linguagem cinematográfica, Orson Welles, com a idade de 25 anos, realizou a sua primeira obra e a sua obra-prima absoluta. Este filme, que parece ter-se inspirado na vida do magnata da imprensa Wllliam Randolph Hearst, foi um êxito para a crítica coeva, mas, dada a sua complexidade ao nível das formas e do argumento, não foi um êxito de bilheteira, pois estava muito acima da idade mental do espectador americano médio da época.

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