VIAGEM A ITÁLIA
EMBRIAGADO DE AMOR E DE PINTURA
Escrevemos esta crónica em Veneza, a cidade mais bela do mundo, penúltima etapa da nossa inolvidável viagem a Itália, que começou em Roma e vai acabar em Milão. A Itália é um país cheio de belas igrejas e de riquíssimos museus e nós realmente nunca visitámos tantas igrejas e tantos museus em tão curto espaço de tempo. Batemos todos os recordes, vimos efectivamente muitas obras de arte e na preocupação de tudo ver andámos às vezes demasiado depressa.
Mas tivemos momentos de longo êxtase e de contínuo deslumbramento na Basílica de S. Pedro, com as suas longuíssimas e monumentais naves, com o seu baldaquino e com a sua colunata exterior, de Bernini, e, qual cereja em cima do bolo, com a sua imponente e arrasadora cúpula, de Miguel Ângelo, do cimo da qual se desfruta uma fabulosa vista de Roma.
Mas o momento maior da nossa deslocação a Itália foi a contemplação da beleza grácil e pura e ao mesmo tempo descomunal e titânica das figuras do tecto e do altar-mor da Capela Sistina, que é sem dúvida a obra prima do grande génio que foi Miguel Ângelo. Nós realmente nunca tínhamos visto uma pintura tão poderosa e nunca tínhamos tido uma contemplação tão prolongada de uma obra de arte, pois estivemos na Capela Sistina mais de uma hora e a nossa vontade era ficar lá para sempre, pois é o lugar mais belo do mundo.
Também fomos às outras dependências museológicas do Vaticano, tendo demorado uma tarde a visitá-las. É que no Vaticano deparámos com as grandes obras escultóricas da antiguidade greco-romana e com as pinturas dos maiores mestres do Renascimento, tais como Leonardo, Miguel Ângelo, Rafael, Perugino, Botticelli, etc., etc. O tesouro artístico do Vaticano é efectivamente o espelho de uma Igreja Católica que na época do Renascimento foi uma instituição rica, poderosa, ecuménica, humanista e culta.
Mas os cinco dias que passámos na capital de Itália proporcionaram-nos a visita a muitos outros museus, tais como os dois Museus Capitolinos, o Museu do Palácio Barberini e a Galleria Borghese, todos eles fabulosos. E ainda fomos ao Fórum Romano, ao Panteão, ao Coliseu, às colunas de Trajano e de Marco Aurélio, às belas e elegantes fontes romanas e também nos sentámos nas cálidas noites de Roma com as encantadoras ragazzas romanas nas escadarias da Praça de Espanha.
E o mesmo se passou na restante Itália que já visitámos: em Nápoles, onde estivemos duas vezes, em visita à cidade e também a Pompeia e à paradisíaca ilha de Capri, tendo navegado no Mar Tirreno e tendo visitado a belíssima gruta azul; em Florença, onde visitámos a tão elogiada catedral, que na nossa opinião é um edifício desequilibrado, muito rico por fora e muito pobre por dentro; e ainda fomos à Ponte Velha, à Igreja de Santa Cruz e ao Museu dos Uffizi, um dos melhores museus de Itália, com uma importante colecção de pinturas do Renascimento.
Quando nos lembramos dos museus italianos que visitámos e também dos museus norte-americanos que percorremos na nossa recente visita aos Estados Unidos, não podemos deixar de lamentar a pobreza franciscana dos museus portugueses, espelho de um povo inculto, ignorante e atrasado.
Realmente, numa cidade como Veneza e num país como a Itália, até nos custa a acreditar que somos português. É que nós nada temos a ver com as pimbalhadas culturais e com o gosto medíocre dos nossos conterrâneos. E vamos com certeza sentir muita tristeza quando regressarmos ao nosso mesquinho e pequenino Portugal. É claro que isto não é totalmente verdade, pois há portugueses e portugueses. O grupo de portugueses em que estamos integrados neste passeio pela Itália, organizado pela Agência Abreu, é o grupo mais maravilhoso com quem viajámos em toda a nossa vida.
Este grupo, formado por pessoas cultas e sensíveis com quem entabulámos relações de grande amizade e de alegre camaradagem, está a proporcionar-nos sem dúvida alguns dos dias mais felizes de toda a nossa vida. Em Itália, nas estradas, nas cidades, nas ruas, nos hotéis, nos restaurantes, nos museus e nas igrejas, sob a superintendência do competentíssimo guia Vítor Ribeiro, andamos todos de braço dado, embriagados de amor, de carinho, de arte e de pintura.
A ITÁLIA DA DOCE VIDA
E DO CINEMA ESPLENDOROSO
DE FEDERICO FELLINI
Tivemos a grata ocasião de ver, há já algum tempo, numa sessão do Cine Clube de Viseu, o filme «Amarcord», de Federico Fellini. Foi uma noite feliz, pois trata-se de um filme que nós amamos muito. O título do filme «Amarcord» significa recordo-me e o filme é, com efeito, delirantemente autobiográfico.
E embora a acção do filme tenha lugar numa estância de veraneio chamada Borgo, a verdade é que essa estância de veraneio é um decalque de Rimini, cidade onde o realizador nasceu em 1920 e onde viveu até Janeiro de 1938, altura em que se mudou para Roma, que foi a grande metrópole onde o seu génio eclodiu e se desenvolveu.
Rimini é portanto uma terra cheia de recordações para Fellini e também para nós que já vimos o filme muitas vezes, sempre em estado de graça, com uma lágrima ao canto do olho e com um sorriso no pensamento. E ainda nos lembramos de ter assistido à estreia do filme, no ano de 1974, quando andávamos na Escola de Cinema, em Lisboa, numa sala já desaparecida, o Castil.
E logo na altura dessa primeira visão nos apeteceu ir a essa cidade pela qual ficámos apaixonados ao ver o filme. Aquando da nossa recente visita a Itália, ainda equacionámos a possibilidade de visitar Rimini, mas infelizmente a cidade natal de Fellini não estava incluída no trajecto da nossa agência de viagens.
É que Rimini fica na costa do Mar Adriático e nós viajámos em autocarro pela Itália acima, a partir de Nápoles, com passeios às ruínas de Pompeia e à paradisíaca ilha de Capri, que se situam precisamente na costa oposta, banhada pelo Mar Tirreno. E depois, a partir de Roma, onde estivemos cinco dias, flectimos um pouco para o interior do cano da bota italiana, visitando Assis, Siena, Florença, Pisa, Veneza, Pádua, Verona e Milão.
Não passámos muito longe de Rimini, pois andámos quase sempre junto à cordilheira dos Apeninos, mas a verdade é que não fomos lá. E não tivemos portanto oportunidade de cheirar e de saborear uma cidade que nós amamos muito por motivos cinéfilos. Mas em contrapartida cheirámos e saboreámos o mundo do cinema de Fellini em Roma, na celebérrima Via Veneto, a avenida que ainda hoje é conhecida em todo o mundo por ter servido de palco privilegiado à acção de outro filme fabuloso de Fellini, «La Dolce Vita».
E realmente, a primeira vez que passámos na Via Veneto, logo no início da nossa estadia em Roma, numa visita nocturna panorâmica à cidade em autocarro turístico, o guia local, o Donato, logo nos avisou que na avenida de «La Dolce Vita», por causa do filme de Fellini, era tudo caríssimo e que nos seus restaurantes nos apresentavam uma conta com tantos números como os números da lista telefónica.
Claro que ficámos encantados por passar, embora de autocarro, na Via Veneto e logo que nos foi possível, num intervalo das nossas visitas aos museus, às igrejas e aos monumentos de Roma, voltámos lá a pé e percorremos toda a avenida com o devido vagar, tendo entrado inclusivamente no mítico Café Paris, sem dúvida o estabelecimento mais célebre da Via Veneto.
E é claro que também fomos a outro lugar em Roma onde se passa uma importante sequência de «La Dolce Vita», a Fontana di Trevi, onde a explosiva loira Anita Ekberg toma um sensual e refrescante banho. E a nós também nos apeteceu, na cálida noite romana, tomar banho na Fontana di Trevi. Mas a verdade é que não só não tomámos banho como até nos esquecemos de lançar uma ou mais moedas à fonte: uma, para arranjarmos uma namorada; duas, para rompermos com a namorada, quando estivermos fartos dela; e finalmente três, para termos chance de voltarmos em breve de novo a Roma.
E assim, passeámos e deambulámos cinefilamente na Fontana di Trevi e na Via Veneto de Roma, pois a Via Veneto da película foi reconstituída num dos estúdios da Cinecittà, como se estivéssemos dentro do filme «La Dolce Vita» e como se fôssemos também os protagonistas dessa vida de ricos que proporciona aos bafejados pela fortuna esse «dolce fare niente» que tanto estimula a imaginação na busca das coisas boas e do prazer.
E como nós viemos a este mundo essencialmente para nos divertirmos, nada melhor do que saborearmos a doce vida de Roma (e também de Rimini, onde não fomos), embora neste momento o façamos apenas através da memória e das recordações. E assim, agora à distância, recordo-me («amarcord») que Fellini era um puto em Rimini e que ia ao cinema para apalpar as pernas da Gradisca e que depois ia comprar tabaco a desoras para dar uma queca à dona da loja, uma mulher descomunal de mamas avantajadas e com um cu enorme. E que eu ia com ele ao cinema e à loja quando estava ver o «Amarcord».
E recordo-me («amarcord») que já adulto, em Roma, Fellini ia a um bar de meninas de engate com o pai («La Dolce Vita») e que noutro filme («Roma») ia a uma casa de putas selecta onde se apaixonava pela puta mais bela do lupanar. E que eu ia com ele. E que depois íamos os dois andar de moto, já alta madrugada, por toda a cidade de Roma, a cidade imperial, a cidade eterna, a cidade de Fellini e a minha cidade. Recordo-me («amarcord»).
A LEVE E GRÁCIL VENEZA
A CIDADE MAIS FLUIDA
E MAIS LÍQUIDA DO MUNDO
Chegámos a Veneza por volta do meio-dia, vindos de várias cidades incluídas no nosso périplo italiano, tais como Nápoles, Roma, Siena e Florença. Ficámos hospedados no Hotel Ambasciatore Venezia, um hotel de luxo que deve ter sido muito bom há uns anos atrás, mas que hoje apresenta um aspecto um tanto ou quanto «demodé».
Este hotel fica naquela parte de Veneza, a Veneza (Mestre) ligada ao continente italiano; e assim, só depois de almoçarmos no restaurante do hotel é que nós viajámos de barco para a ilha mais importante de Veneza, onde passámos toda a tarde e parte da noite. E só nessa altura, na viagem para essa ilha onde se situa a Praça de São Marcos, é que nós começámos verdadeiramente a visitar a cidade de Veneza.
É que Veneza é na sua essência uma cidade leve, líquida e fluída. E portanto só com muita água à nossa volta e com algumas das cento e dezoito ilhas que constituem a cidade no horizonte do nosso olhar é que Veneza pode verdadeiramente ser cheirada, desfrutada, apalpada, possuída. Com efeito, é preciso primeiramente descobrir o milagre urbanístico de Veneza, com as suas ilhas surgindo da espuma do mar, como canteiros de odoríficas e deslumbrantes flores a emergirem entre as salsas águas das suas lagunas e a superfície mais alargada do Adriático mar. É preciso descobrir este milagre para começar a ficar encantado.
Mas o nosso encantamento foi ainda mais intenso quando, depois de desembarcarmos e de percorrermos a pé a «Riva degli Schiavoni», entrámos na «piazzetta» de São Marcos, que é, digamos, a antecâmara e o nártex urbanístico da Praça de São Marcos. E o nosso encantamento explica-se, pois o edifício do Palácio Ducal, situado nessa preciosa «piazzetta», deita por terra a lógica habitual da arquitectura, com a sua inversão da divisão tradicional entre o maciço e o oco.
Duas ligeiras galerias de colunas servem, com efeito, de sustentáculo a um último piso constituído pelo corpo mais sólido do edifício, de modo que a zona oca está por baixo da maciça, o que é totalmente anti-tectónico. Mas em Veneza as coisas funcionam assim: o mais leve e o mais esbelto sustentam o mais pesado.
Ao lado do Palácio Ducal, um pouco mais adiante, já na Praça de São Marcos, situa-se a Basílica de São Marcos, que com a sua planta em forma de cruz grega, com as suas cinco cúpulas e com os seus etéreos mosaicos doirados mais parece uma mesquita oriental do que uma igreja do ocidente cristão. Mas nós não nos devemos admirar de haver em Veneza uma basílica assim, pois a rainha do Adriático, com o seu sentido pragmático da política e dos negócios, sempre esteve muito próxima do oriente e sempre assegurou aliás, ao longo dos tempos, de uma maneira eficaz, as relações entre o oriente e o ocidente.
Depois de visitarmos demoradamente a Basílica e a Praça de São Marcos, andámos pela zona do Rialto, a zona do comércio de luxo de Veneza, com as suas ruas cheias de lojas com artigos de marca, mas esta zona foi para nós uma relativa desilusão e por isso resolvemos fazer o caminho de regresso entre a Ponte de Rialto e a Praça de São Marcos pelas antigas ruas da Veneza medieval, umas ruas tão lúgrubes, tão estreitas e tão escuras, que mais parecem sinuosas serpentes a estirarem-se nas concavidades abissais de um labirinto urbano subterrâneo.
E enfim, depois de nos refazermos desta interessante curtição de uma suja, insalubre e pitoresca Veneza, nós realizámos a plenitude do nosso desejo de possuir toda a cidade no cimo do «campanile» da Basílica de São Marcos, para onde subimos acompanhados de uma amiga e onde estivemos durante largos momentos de puro êxtase a contemplar a sereníssima cidade dos doges estendida aos nossos pés. Numa das fotografias insertas nesta página pode ver-se o autor deste artigo e a sua amiga no miradouro do «campanile», com a cidade de Veneza aos nossos pés. E ao fim da tarde, para rematar em beleza a nossa graciosa odisseia veneziana, fizemos um passeio de gôndola pelo Canal Grande, onde nos deixámos penetrar por uma luz doce e envolvente muito semelhante à luz suave dos quadros de Giorgione, saboreando o seu doce afago e a sua terna paleta crepuscular. Foi um fim de tarde muito feliz. É que um passeio de gôndola pelas águas do Canal Grande, com o gondoleiro a cantar o «O sole mio», é algo de muito íntimo, de muito erótico e de muito apaixonante. É como estarmos a masturbarmo-nos diante de uma bela e atraente mulher e ao mesmo tempo estarmos a imaginar que estamos a fazer amor com ela.
Mas Veneza, mais do que uma bela e atraente mulher, é na verdade uma deusa, é realmente uma Vénus a emergir das profundezas da água até à calma ondulação da superfície do mar. E embora os livros teimem em dizer-nos que deusa do amor nasceu em Chipre, a verdade é que para nós ela nasceu em Veneza e até a consideramos a patrona da cidade e não o evangelista São Marcos, que morreu em Alexandria e que nunca esteve em Veneza.
E mesmo o leão, que é o animal simbólico de São Marcos e o símbolo de Veneza, também nada nos diz, pois Veneza não é África, não tem pretos, não tem feras, não tem selvas, nem tem jardim zoológico. Veneza, com efeito, é uma cidade tão grácil, tão leve, tão terna, tão fluída e tão líquida que só uma divindade pagã feminina com a rata húmida merece ser nela endeusada.
PASSEANDO EM ITÁLIA PELOS PALÁCIOS
DAS GRANDES FAMÍLIAS ROMANAS
Começámos a nossa viagem em terras de Itália pela cidade de Roma e logo aí entrámos em contacto com as mais ilustres famílias romanas: os Della Rovere, os Barberini, os Pamphili e os Borghese. Infelizmente não tivemos o prazer de conhecer pessoalmente os actuais membros dessas famílias. Mas isso não nos impediu de entrarmos nos seus palácios e nas suas casas de campo, onde tivemos a oportunidade de ver in loco as colecções de arte reunidas por essas famílias e de nos apercebermos da cultura e do bom gosto dessa nata da aristocracia italiana que são as grandes famílias romanas.
Todas essas famílias forneceram papas e cardeais à Igreja, mas papas e cardeais não mentalmente perturbados pelos horizontes sinistros do fanatismo religioso nem limitados pelos preconceitos de uma moral de sacristia. Nós vimos com os nossos próprios olhos esculturas e pinturas em que a beleza, masculina e feminina, brilha em todo o seu esplendor pagão, nos museus do Vaticano, na Capela Sistina e nas luxuosas mansões que pertenceram aos membros dessas famílias.
E realmente é um facto que os altos membros da Igreja oriundos dessas famílias eram pessoas normais, com mulheres e com filhos, que aliás hoje aparecem pudicamente referidos como sobrinhos dos papas e dos cardeais, pois a Igreja Católica, infelizmente, nos tempos actuais, até tem medo da verdade.
Esses papas e esses cardeais eram pessoas, portanto, que apreciavam o corpo nu das mulheres e dos efebos e toda a arte que à volta da nudez se produziu desde o período arcaico da civilização da Grécia Antiga. E foi assim que muitos papas, como Júlio II, Urbano VIII e Paulo V, por exemplo, oriundos dessas famílias romanas, e Leão X, oriundo da importante família dos Médicis, de Florença, reuniram colecções de arte fabulosas e deram um forte apoio aos artistas do seu tempo.
Apenas a título de exemplo, as colecções de arte da Galeria Borghese foram constituídas graças ao empenho do Cardeal Scipione Borghese e do seu tio, o Papa Paulo V, que apoiaram inclusivamente um pintor italiano marginal e homossexual, ainda por cima com crimes no cadastro, mas de cujo valor logo se aperceberam e não se enganaram, pois é um dos maiores artistas italianos de todos os tempos. Estamos a falar do genial Caravaggio, que é aliás também um dos nossos pintores preferidos.
E já agora convém referir que a Galeria Borghese é o museu mais luxuoso que vimos em toda a nossa vida. Situado na casa de campo da família Borghese, hoje dentro do perímetro de Roma, não só reúne colecções de pintura e de escultura absolutamente fabulosas, em que avultam quadros de Ticiano, de Rafael e de Caravaggio e obras escultóricas de Canova, de Bernini e da antiguidade greco-romana, como o faz em condições museológicas absolutamente excepcionais, numas salas lindíssimas, com paredes e tectos pintados com o gosto requintado dos aristocratas cultos.
Em Portugal praticamente não houve aristocratas cultos e, quanto a monarcas, só tivemos os três Filipes, no período da união com a Espanha, que foram grandes reis e homens de enorme cultura e de apurado gosto. Quanto aos reis portugueses, foram quase todos uns grandes burgessos. Com reis e com aristocratas incultos, com um clero reaccionário e inquisitório e com uma evolução histórica medíocre, Portugal ocupa o lugar que merece: está na cauda das caudas da Europa.
Aliás, os portugueses têm má fama em Itália. Devido a um jantar que teve lugar em Roma, no século XVI, numa embaixada, em que os portugueses não tinham que pagar nada e obviamente não pagaram, os italianos começaram a dizer que os portugueses não pagavam as suas contas. Esse não foi infelizmente o nosso caso, pois pagámos todas as contas da nossa viagem por terras de Itália.
E desde já avisamos os nossos leitores que a vida em Itália é caríssima. Nós praticamente só comemos esparguete à bolonhesa em quase todas as refeições, pois não gostamos de piza, e mesmo assim pagámos uma média de quinze euros por cada refeição. E quanto a taxis, os preços são de fogo. Pagámos vinte euros por um pequena corrida. Mais valia não ter pago, como fizeram os portugueses na embaixada.
Mas os italianos e as italianas com quem contactámos não sabiam qual a nossa nacionalidade. Pensavam talvez que éramos um turista americano em férias, pois falámos sempre em inglês em todos os sítios. É que constatámos que falando em português ninguém nos compreendia. Isso aliás evitou que nos confundissem com os portugueses caloteiros que não pagaram as suas contas. E ainda por cima essa história não é verdadeira, pois a refeição era à borla. Mas quando a história que contam é falsa, os italianos também dizem: non è vero, ma è ben trovato (não é verdadeiro, mas é bem achado).
Viagem: Agosto de 2003
DISTÂNIA LIBOA - ROMA - 1900 KMS.