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Viagens-pelo-Mundo

9/23/2008

POESIA - POETRY



ODE A WALT WHITMAN

(AUTOR: GARCIA LORCA)

I
Pelo East River e pelo Bronx
os rapazes cantavam mostrando as cinturas.
Com a roda, o óleo, o coiro e o martelo
noventa mil mineiros arrancavam a prata das rochas
e os garotos desenhavam escadas e perspectivas.

II
Porém nenhum adormecia,
nenhum queria ser rio,
nenhum amava as grandes folhas,
nenhum, a língua azul da praia.

III
Pelo East River e pelo Queensborough
os rapazes lutavam com a indústria,
os judeus vendiam ao fauno do rio
a rosa da circuncisão
e o céu desembocava por pontes e telhados
manadas de bisontes empurradas pelo vento.

IV

Porém nenhum se detinha,
nenhum queria ser nuvem,
nenhum procurava os fetos
nem a roda do tamboril.

V

Quando a lua nascer,
as polés rodarão para turvar o céu;
Um limite de agulhas cercará a memória
e ataúdes serão levados aos que não trabalham.

VI

Nova Iorque de lama,
Nova Iorque de arame e de morte:
Que anjo levas oculto na tua face?
Que voz perfeita dirá as verdades do trigo,
o sonho terrível das tuas anémonas manchadas?

VII

Nem um só momento, velho e formoso Walt Whitman,
deixei de olhar a tua barba cheia de borboletas,
os teus ombros de bombazina gastos pela lua,
as tuas coxas de Apolo virginal,
a tua voz como coluna de cinza;
ancião formoso como a bruma,
que gemias como um pássaro
com o sexo atravessado por uma agulha.
Inimigo do sátiro.
Inimigo da vide
e amante dos corpos ocultos por tecidos grosseiros.

VIII

Nem um só momento, formosura viril,
que em montes de carvão, vias-férreas e anúncios,
sonhavas ser um rio e dormir como um rio
com aquele camarada que poria no teu peito
uma pequena dor de ignorante leopardo.

IX

Nem um só momento, Adão de sangue, Macho,
homem sozinho no mar, velho e formoso Walt Whitma,
porque nas esplanadas,
agrupados nos bares,
saindo em cachos das sargetas,
tremendo entre as pernas dos chauffeursou
girando nas plataformas do absinto,
os maricas, Walt Whitman, apontam-te.

X

Também esse! Também! E despenham-se
na tua barba luminosa e casta,
loiros do Norte, negros das areias,
multidões de gritos e ademanes,
como os gatos e as serpentes,
os maricas, Walt Whitman, os maricas
turvos de lágrimas, carne para chicote,
bota ou mordedura de domadores.

XI

Também esse! Também! Dedos pintados
apontam a margem do teu sonho,
quando o amigo come a tua maçã
com um leve sabor a gasolina,
e o sol canta nos umbigos
dos rapazes que brincam sob as pontes.

XII

Mas tu não procuravas olhos arranhados
nem o pântano sombrio onde afogam os garotos,
nem a saliva gelada,
nem as curvas feridas como panças de sapos
que levam os maricas em carros às esplanadas
enquanto os fustiga a lua pelas esquinas do terror.

XIII

Tu procuravas um nu que fosse como um rio.
Toiro e sonho que junte a roda à alga,
pai de tua agonia, camélia da rua morte
e gemesse nas chamas do teu Equador oculto.

XIV

Porque é justo que o homem não procure o prazer
na selva de sangue da manhã mais próxima.
O céu tem praias onde evitar a vida
e há corpos que não devem repetir-se na Aurora.

XV

Agonia, agonia, sonho, fermento e sonho.
Assim é o mundo, amigo, agonia, agonia.
Apodrecem os mortos sob o relógio das cidades,
passa a guerra chorando com um milhão de ratas cinzentas,
os ricos dão às suas amantes
pequenos moribundos iluminados,
e a Vida não é nobre, nem boa, nem sagrada.

XVI

Pode o homem, se quiser, conduzir o desejo
por veia de coral ou nu celeste;
amanhã todo o amor será rocha, e o Tempo
a brisa que chega adormecida pelos ramos.

XVII

Por isso não ergo a minha voz, velho Walt Whitman,
contra o garoto que escreve
um nome de menina na sua almofada,
nem contra o jovem que se veste de noiva
na penumbra da sua alcova,
nem contra os solitários dos casinos
que bebem com nojo a água da prostituição,
nem contra os homens de olhar verde
que amam outro homem queimando os lábios em silêncio.
Mas sim contra vós, maricas das cidades,
de carne apodrecida e pensamento imundo.
Mães de lodo. Harpias. Inimigos sem o sonho
do Amor que reparte grinaldas de alegria.

XVIII

Contra vós sempre, que aos rapazes dais
gotas de suja morte com veneno amargo.

XIX

Sempre contra vós,
Faeries da América,
Pájaros de Havana,
Jotos do México,
Sarasas de Cádis,
Apios de Sevilha,
Cancos de Madrid,
Floras de Alicante,
Adelaides de Portugal.

XX

Maricas de todo o mundo, assassinos de pombas!
Escravos da mulher, cadelas de seus toucadores,
abertos nas praças com febre de leque
ou emboscados em hirtas paisagens de cicuta.

XXI


Não haja trégua! A morte
irrompe dos vossos olhos
e junta flores de cinza na margem do lodo.
Não haja tréguas! Alerta!
Que os confundidos, os puros,
os clássicos, os predestinados, os suplicantes
vos fechem as portas da bacanal.

XXII

E tu, belo Walt Whitman, dorme nas margens do Hudson
com a barba virada ao pólo e as mãos abertas.
Argila branca ou neve, a tua língua chama
Camaradas que velem tua gazela sem corpo.

XIII


Dorme, não fica nada.
Uma dança de muros agita as pradarias
e a América afoga-se em máquinas e pranto.
Quero que o ar forte da noite mais profunda
tire flores e letras do arco onde dormes
e um garoto negro anuncie aos brancos do oiro
a chegada do reino das espigas.

Tradução de Eugénio de Andrade

9/14/2008

CRÍTICAS DE CINEMA

A NOITE DE GLÓRIA DE MARTIN SCORSESE

CITIZEN KANE


VALE ABRAÃO


OS ÓSCARES

OS ÓSCARES EM TEMPO DE GUERRA


O grande vencedor dos Óscares deste ano foi o filme Chicago e nós aceitamos perfeitamente a escolha, muito embora o nosso favorito fosse outro dos filmes nomeados, o fabuloso Gangs de Nova Iorque. Acontece, porém, que a guerra condicionou naturalmente as escolhas. E uma vez que estamos em tempo de guerra, aconselhamos os nossos leitores a seguir o sábio conselho do Padre António Rego: “É preferível proclamar ideais de paz em más companhias que defender a morte e a violência em harmonia com os poderosos”.É interessante referir que o Sétimo Regimento de Cavalaria, mitificado nos filmes de John Ford, também se encontra no Iraque. Nós, que desprezamos os generais, que somos ferozmente antimilitarista e que, no que se refere às forças armadas, só gostamos da versão cinéfila do Sétimo de Cavalaria, protestamos veementemente contra a utilização deste regimento na guerra contra o Iraque. A essa guerra brutal, nós preferimos a guerra de John Wayne em formato DVD, no pack da trilogia da Cavalaria, da Costa do Castelo.Escolher Gangs de Nova Iorque num contexto de guerra, de bombardeamentos e de apocalíptica destruição, seria uma opção muito difícil e delicada, pois é um filme sórdido e medonho, com momentos de extrema violência, embora, na nossa opinião, fosse a opção mais justa, pois o filme de Martin Scorsese é realmente o melhor dos filmes nomeados.O filme relata-nos a vida no bairro de Five Points, na zona mais pobre de Manhattan, em Nova Iorque, no século XIX, mais ou menos na altura em que teve início a guerra civil norte-americana. As imagens cruéis que vemos no ecrã mostram-nos as lutas sangrentas de gangs rivais pelo domínio das ruas e também a revolta da população do bairro contra o alistamento obrigatório nas tropas nortistas a quem não pagasse uma certa quantia em dinheiro. E no meio disto tudo também se inclui um triângulo amoroso, com dimensões freudianas.Tudo isto seria normal se não se desse o caso dos personagens do filme serem realmente tão horrorosos que a nós até nos custa a acreditar que tivesse existido gente assim. O que vemos no filme são, com efeito, putas rascas, assassinos, desordeiros, larápios, enfim, gente do pior, uma verdadeira escumalha, e por isso o filme nos causa um certo incómodo e até algum nojo. Há que relevar também a interpretação do consagrado Daniel Day-Lewis, talvez merecedora de um Óscar, embora em relação a este Óscar já não estejamos tão certos, pois também gostámos imenso da límpida interpretação, discreta e contida, de Jack Nicholson, no filme As Confissões de Schmidt. Mas nenhuma delas ganhou qualquer Óscar.Como dissemos no início e voltamos a repetir agora, aceitamos que Gangs de Nova Iorque tivesse sido preterido em favor de Chicago. É que no contexto de uma guerra de merda e num mundo que é uma merda, na opinião de José Saramago, mostrar ainda mais merda não seria muito conveniente. E daí que a Academia tenha eleito um filme cantado e dançado, embora não tenha com isso ressuscitado o cinema musical, que deu precisamente os últimos suspiros com o criador original de Chicago, Bob Fosse.Gostaríamos também de destacar o merecido Óscar atribuído a Nicole Kidman pela sua interpretação no filme As Horas» de Stephen Daldry, embora este filme merecesse mais um Óscar feminino (Meryl Streep) e também um Óscar masculino, sendo este último de certa maneira uma insólita intromissão, pois trata-se de um filme de mulheres. Este Óscar iria para o excepcional intérprete Ed Harris, no papel de um homossexual, em estado terminal, afectado pelo vírus da SIDA.Neste filme de mulheres, as personagens femininas, todas inspiradas na genial romancista Virginia Woolf, não são nada parecidas com as denominadas Senhoras da nossa melhor sociedade, mulheres exteriormente dignas, bem vestidas, bem casadas, respeitáveis e moralmente irrepreensíveis. Pelo contrário, as mulheres do filme As Horas fazem da indignidade uma virtude e por isso nos parecem tão incómodas, tão estranhas, tão medonhas e tão dignas da nossa admiração.A conclusão que se pode tirar do filme é que viver com as mulheres é um inferno. O problema é que viver sem as mulheres é igualmente um inferno. Mas ver o filme As Horas, mesmo com muitas mulheres no ecrã, não é um inferno, pois trata-se de um óptimo filme, com fulgurantes interpretações. O filme é tão literário e tão inteligente que até parece um filme europeu. Mas hoje em dia na Europa, se exceptuarmos Pedro Almodóvar, que com o genial Fala com Ela também ganhou um Óscar, já não se fazem filmes com a classe de As Horas.A cerimónia da atribuição dos Óscares teve o seu momento mais alto com a aparição em palco de todos os actores e actrizes vencedores de Óscares, numa cerimónia comovedora, que nos emocionou até às lágrimas. É que tivemos a honra e o privilégio de ver certos actores e certas actrizes, que já julgávamos há muito tempo debaixo da terra. Alguns são com certeza tão velhos que já devem ter atingido os noventa ou até mesmo os cem anos.Mas no meio daquela velharia toda havia muitas garotas vencedoras de Óscares extremamente sedutoras. E ao fim e ao cabo as velhas actrizes também já foram boas actrizes e boas atrás. De qualquer maneira, as estrelas de Hollywood são assim: iluminam o nosso firmamento cinéfilo até muito tarde e continuam a brilhar intensamente mesmo em tempo de guerra.




FILMES GAYS E POLITICAMENTE INCORRECTOSNA CERIMÓNIA DE ENTREGADOS ÓSCARES DE 2006


Ao contrário do ano passado, em que o filme Million Dollar Baby foi o vencedor incontestado, este ano houve bastante equilíbrio na distribuição dos Óscares principais, os chamados Óscares artísticos. Claro que os Óscares técnicos também são importantes, pois não é possível fazer filmes sem guarda-roupa, sem make-up, sem captação de som, sem decoração, sem iluminação, etc., etc., etc.Mas não há dúvida de que na cerimónia da distribuição dos Óscares as categorias técnicas têm uma importância secundária. Quanto às categorias artísticas, como dizíamos no princípio deste artigo, não houve nenhum filme que tivesse arrasado a concorrência. E assim temos que atribuir o primeiro lugar a dois filmes: O Segredo de Brokeback Mountain e Colisão. O primeiro recebeu os Óscares relativos ao melhor realizador e ao melhor argumento adaptado e o segundo recebeu os Óscares relativos ao melhor filme e ao melhor argumento original.Os grandes vencidos desta cerimónia de distribuição dos Óscares foram, sem dúvida, o filme Munique, de Steven Spielberg, e o filme Boa Noite, e Boa Sorte, de George Clooney, já que o filme Capote, também nomeado para a categoria de melhor filme, não se pode considerar propriamente um vencido, pois recebeu o importantíssimo Óscar de interpretação do melhor actor principal.De salientar desde já que todos os filmes nomeados para os Óscares nas categorias principais são filmes de grande qualidade e de alta craveira artística, o que mostra perfeitamente que o cinema de Hollywood não é só aquele cinema de efeitos especiais, pipocas e entretenimento a que o querem reduzir alguns dirigentes cineclubistas viseenses fanáticos e incultos que até já tiveram o descaramento de expressar essa opinião num jornal local.Aliás, esses dirigentes cineclubistas não são apenas fanáticos e incultos, são também incoerentes, pois nós visionámos um dos filmes vencedores desta cerimónia da distribuição dos Óscares, o Colisão, numa sessão do Cine Clube de Viseu. Estranhamente, o filme Colisão, que já se pode ver há muito tempo em formato DVD, só depois da sua exibição no Cine Clube de Viseu é que estreou nos Cinemas Lusomundo do Fórum de Viseu.É curioso constatar que os únicos filmes candidatos aos Óscares nas categorias artísticas exibidos nos Cinemas Lusomundo até à altura em que escrevemos este artigo foram o já referido Colisão, de Paul Haggis, e o Munique, de Steven Spielberg. E assim, um filme como O Segredo de Brokeback Mountain, que era o principal candidato aos Óscares, pois era o filme com mais nomeações, ainda não foi exibido nos Cinemas Lusomundo do Fórum de Viseu. Pelos vistos, Viseu continua a ser considerada uma cidade culturalmente atrasada em termos cinematográficos e nessa medida os senhores de Lisboa só mandam para cá, de uma maneira geral, filmes menores. E quanto a alguns bons filmes, apenas por cá se estreiam tarde e a más horas.Esta situação não se compreende, pois o filme O Segredo de Brokeback Mountain fez importantes receitas de bilheteira nos Estados Unidos da América, tendo até já superado o total das receitas do filme Million Dollar Baby, vencedor no ano transacto. Por estranho que possa parecer, o êxito comercial do filme O Segredo de Brokeback Mountain não se limitou às grandes áreas urbanas da América. Teve também um grande impacto na América profunda. O filme é evidentemente um filme gay, mas é sobretudo uma belíssima história de amor entre dois vaqueiros.Quanto ao filme Colisão, é um filme que aborda o lado negro de uma cidade que nós visitámos, aquando da nossa estadia na Califórnia, e onde estivemos vários dias. Mas a Los Angeles onde nós estivemos é a Los Angeles de Hollywood, da downtown e da praia de Santa Mónica.Com efeito, nós estivemos hospedado num dos bons hotéis de Los Angeles, o Marriot, na Figueroa Street, mesmo no centro da enorme cidade de Los Angeles. Para visitarmos Hollywood e a praia de Santa Mónica tivemos que ir de metro e de autocarro, respectivamente, pois Los Angeles é uma das maiores cidades dos Estados Unidos.Por todas estas razões, a Los Angeles que nós vimos no filme Colisão é uma Los Angeles diferente daquela que vislumbrámos na nossa estadia: é a Los Angeles do crime, do racismo e da miséria, não é a Los Angeles das pessoas de bem que nós conhecemos.Em relação ao filme Capote, a atribuição do prémio de melhor actor principal a Philip Seymour Hoffman era de tal maneira esperada que a revista Time até dizia que só se um asteróide destruísse a terra é que este actor não levava para casa o Óscar pela interpretação do filme Capote.Nós admiramos muito o escritor Truman Capote e gostamos imenso da sua obra-prima, o romance A Sangue Frio, um romance de não ficção sobre quatro crimes horrendos ocorridos no Estado do Kansas. O filme Capote é uma justa homenagem a um homem que teve a coragem de se assumir como homossexual e a um escritor genial.Todos estes filmes que referimos são filmes muito bons, o que prova que o cinema de Hollywood está vivo e recomenda-se e que os seus detractores são pessoas intelectualmente limitadas e cheias de preconceitos.

O FILME COM MAIS NOMEAÇÕES
O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN


O Segredo de Brokeback Mountain era um dos filmes que nós aguardávamos com mais ansiedade. Com efeito, O Segredo de Brokeback Mountain é um filme que nós sabíamos ter uma temática totalmente inovadora, podendo mesmo dizer-se que introduzia uma revolução num género cinematográfico, o western, que se caracterizava pela total afirmação machista dos seus heróis.
E esta característica machista é tão verdadeira que nunca ninguém pôs em dúvida, por exemplo, a virilidade e a masculinidade do intérprete máximo dos filmes de cowboys. Estamos a referir-nos, obviamente, a John Wayne, que não foi apenas actor de westerns, que interpretou aliás toda a espécie de filmes e que em todos os géneros cinematográficos foi um actor genial.
Não obstante Freud ter escrito os seus ensaios sobre a temática da sexualidade há mais de um século, somos tentados a dizer que John Wayne era um homem cem por cento, embora nós saibamos que isso não é verdade, pois qualquer homem tem uma parte masculina e uma parte feminina. E com as mulheres passa-se a mesa coisa, já que também elas, além da parte feminina, têm igualmente uma parte masculina.
O western é portanto o género cinematográfico em que a masculinidade é mais notória e mais afirmativa e por isso um filme como O Segredo de Brokeback Mountain representa uma autêntica revolução na história de um género que foi sempre relativamente conservador e que por isso mesmo foi um dos géneros cinematográficos mais populares não só nos Estados Unidos da América como no resto do mundo.
Acresce ainda o facto de O Segredo de Brokeback Mountain ter sido o filme candidato aos Óscares com mais nomeações e de ter recebido os dois importantíssimos Óscares da melhor realização e do melhor argumento adaptado. Todas estas circunstâncias aguçaram, como já dissemos, a nossa expectativa em ver o filme, mas infelizmente os Cinemas Lusomundo do Fórum de Viseu não o exibiram, o que não se compreende, dadas as enormes receitas que o filme estava a fazer na altura da sua estreia.
Tivemos que aguardar portanto pelo lançamento do filme em DVD para o poder visionar. E desde já aconselhamos os nossos leitores e o público em geral a comprarem ou a alugarem o DVD de O Segredo de Brokeback Mountain, pois é realmente um filme absolutamente fabuloso.
É um filme feito por Ang Lee, um realizador homossexual, é um filme evidentemente homossexual, tem obviamente cenas de sexo e de amor entre os dois personagens principais, mas é também um filme que nos mostra todo o drama e toda a tragédia que é a vida de dois homossexuais que se amam no meio de uma sociedade e de uma moral reaccionárias e puritanas, como era a sociedade e a moral na região dos Estados Unidos da América onde os acontecimentos narrados no filme supostamente tiveram lugar.
E é assim que um amor e uma paixão entre dois vaqueiros não têm qualquer possibilidade de realização através do casamento ou de uma união de facto séria, reconhecida pela lei e aceite pela sociedade, pois a sociedade e a moral retrógradas em que estão inseridos não permitem tais opções. Aliás, os actos de amor por eles praticados às escondidas são qualificados pelas mulheres de ambos como porcarias, nada mais do que porcarias.
Convém acrescentar que ambos são casados e que ambos têm filhos legítimos e que optaram conscientemente pela condição oficial de maridos heterossexuais. E é essa vida aparentemente normal com que eles disfarçam a sua condição de homossexuais que vai adiando o desenlace final.
O que é curioso é que eles também estão marcados pelo ferrete da moral puritana e reaccionária que os rodeia e daí que tenham também no fundo a mesma opinião desfavorável acerca deles próprios que os outros têm. E é assim que no livro em que o filme é baseado, depois da primeira relação entre os dois, eles preocupam-se em dizer um ao outro que não são paneleiros, o que mostra que não se sentem muito bem depois do acto que praticaram.
Convém dizer que a acção do filme se situa em pleno século XX e que os cowboys não são afinal cowboys, são na realidade sheepboys, pois guardam rebanhos de ovelhas. Vivendo como vivem em pleno século XX, os sheepboys não se limitam a viver no meio da natureza e dos animais, também se deslocam de automóvel, também vêem televisão e também passam grande parte do seu tempo em aglomerados urbanos.
Mas a paisagem totalmente rural de Brokeback Mountain onde a paixão entre os dois eclode lembra instintivamente a paisagem dos westerns do genial realizador John Ford. E embora um dos amantes, o Ennis del Mar, personagem interpretado na perfeição pelo actor australiano Heath Ledger, não leve no final as cinzas do seu amado Jack Twist para Brokeback Mountain, é para lá, para essa paisagem fordiana limpa de preconceitos, que se dirige a sua e a nossa esperança num mundo melhor, mais puro, mais feliz e mais civilizado, onde cada um possa assumir livremente a sua condição humana, na plenitude da sua afirmação sexual.

OS ÓSCARES DE 2007(PRIMEIRA PARTE)
A NOITE DE GLÓRIADE MARTIN SCORSESE


Nesta crónica sobre a cerimónia da entrega dos Óscares do ano de 2007, gostaríamos em primeiro lugar de manifestar a nossa concordância pela atribuição dos Óscares principais ao realizador Martin Scorsese. O célebre realizador nova-iorquino tem uma longa filmografia e é sem dúvida um dos melhores realizadores americanos do nosso tempo.A atribuição este ano de quatro Óscares ao filme Entre Inimigos foi um acto de inteira justiça para com Martin Scorsese, que já tem muitos filmes geniais no seu longo percurso como realizador de cinema. Aliás o filme Entre Inimigos até está em total sintonia com as preferências da Academia, pois é um filme feito num grande estúdio e produzido segundo o modus operandi de Hollywood e não nas margens do sistema.É claro que Scorsese tem filmes muito melhores que o filme Entre Inimigos. E assim cumpre-nos desde já destacar os filmes Taxi Driver, O Touro Enraivecido, A Última Tentação de Cristo e Tudo Bons Rapazes. E estes são apenas alguns exemplos de obras-primas absolutas que assomam à nossa memória no meio de uma longa filmografia com algumas obras menores, mas que tem mantido, de uma maneira geral, um nível muito elevado.Mas a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood tardou em reconhecer o mérito de Scorsese, que era o único realizador, entre os grandes realizadores do cinema americano, que ainda não tinha recebido qualquer Óscar. E talvez para se penitenciar, a Academia até tratou de organizar de uma forma carinhosa a entrega do Óscar a Martin Scorsese, encarregando alguns dos seus amigos e companheiros de percurso de lhe entregarem o Óscar.E foi bonito de ver a alegria de Francis Ford Coppola, de Steven Spielberg e de George Lucas no momento da entrega da estatueta e nos momentos que se seguiram. Na fotografia deste acontecimento, que apareceu em todos os meios de comunicação social, estão quatro dos grandes génios do cinema americano.E dizemos quatro dos grandes génios do cinema americano, porque falta Woody Allen e falta também Clint Eastwood para que nessa fotografia estejam reunidos todos os melhores realizadores do cinema americano. Clint Eastwood foi aliás um dos perdedores da noite da entrega dos Óscares, pois o filme Cartas de Iwo Jima era o grande favorito para ganhar o Óscar de melhor realizador.Mas muito embora o filme Cartas de Iwo Jima seja um dos melhores filmes que vimos em toda a nossa vida e seja um filme genial, nós entendemos que desta vez Scorsese merecia fazer o pleno e ser assim o vencedor incontestado da noite dos Óscares. E viver assim o seu momento de grande felicidade e de grande alegria. E como a felicidade e a alegria dão para tudo, até teve uma frase de fino humor, própria de um homem de grande classe, quando disse: “Por favor, confirmem o envelope para ver se isso está mesmo certo.”.A cerimónia da entrega dos Óscares no Teatro Kodak de Los Angeles é uma cerimónia que sempre nos emocionou muito, especialmente depois da visita que fizemos a Los Angeles e a Hollywood. É que nessa visita também visitámos o Teatro Kodak e também saímos de lá com um Óscar, mas evidentemente que tivemos que comprar o Óscar numa loja de Hollywood.Mas a cerimónia da entrega dos Óscares deste ano teve um encanto especial por o vencedor ter sido Martin Scorsese que é um realizador que amamos muito. Nós até podemos dizer que somos um fervoroso fã de Scorsese, pois possuímos todos os DVDs de Scorsese editados em Portugal e já vimos todos os seus filmes várias vezes.Há realizadores que são com certeza mais importantes no que concerne à evolução das formas cinematográficas, como é o caso de Steven Spielberg e de George Lucas, mas Scorsese está mais próximo de nós, nós gostamos muito dele, é mesmo um dos nossos cineastas de cabeceira. E por isso mesmo a noite da entrega dos Óscares não foi só a noite de glória de Scorsese. Foi também a noite de glória de todos aqueles que como nós amam muito o cinema de Scorsese.

CINEMA AMERICANO PARA JOVENS,
SAD E TEEN SPIRIT

O cinema que se faz há já alguns anos nos Estados Unidos da América é um cinema predominantemente feito para jovens, pois são estes que constituem a maior fatia do público que frequenta as salas e que por isso mesmo têm um papel importantíssimo no êxito ou no fracasso de um filme.
Mas este cinema para jovens não é visto apenas por jovens. Com efeito, hoje assiste-se, entre o público em geral, ao culto desses filmes, que por isso mesmo são objecto de crítica e de estudo nas melhores revistas de cinema. Este culto até já tem um nome em França, syndrome adolescence durable, também conhecido pela sigla SAD, que é uma transplantação para a pátria dos Cahiers du Cinema do teen spirit americano.
Nós pensamos que é muito importante para os habitantes de um continente gasto e envelhecido por muitos séculos de história, como é a Europa, rejuvenescer com a visão desses filmes, cujas obras primas incontestadas são Os Marginais e as Virgens Suicidas, respectivamente de Francis Ford Coppola e da sua filha Sofia Coppola.
A maior parte desses teen movies são filmes que nos mostram lindos estudantes na vivência primaveril de uma fresca, risonha e colorida adolescência, que é preciso prolongar indefinidamente, já que depois vêm as enormes chatices que são procurar emprego, trabalhar, casar, constituir família, envelhecer e morrer.
O melhor, portanto, que temos que fazer é identificarmo-nos com os boys e com as girls desses filmes virginais, procurando ser jovens até esticarmos o pernil, ainda que para tal tenhamos que tomar viagra em quantidades industriais.
Manter a chama da juventude mesmo para além da meia idade é o objectivo do movimento SAD, a que os críticos e redactores da melhor revista de cinema do mundo, os míticos Cahiers du Cinema, dão muito mais que um simples aval, pois o SAD é actualmente para os Cahiers um verdadeiro programa cinéfilo e uma autêntica profissão de fé.
E assim, da mesma maneira que os Cahiers há trinta e tal anos eram maoistas, hoje são SAD, o que prova mais uma vez que a luta de classes e o marxismo são fenómenos ultrapassados, que há muito tempo entraram no caixote do lixo da história. Aliás, à semelhança do que acontece com os Cahiers, também a pátria do maoismo, a China, é nos dias de hoje um país capitalista e qualquer dia também é SAD.
Portanto, um cinéfilo que queira estar a la page deve ler a Bíblia da sacrossanta irmandade do cinema, que são os Cahiers, e deve frequentar assiduamente as salas que exibem filmes americanos, que são aliás quase todas as salas que existem no planeta Terra.
O nosso amigo e camarada cinéfilo SAD lucrará imenso com a sua esclarecida opção, pois em vez de ver uns chatíssimos filmes europeus, com os seus longos e entediantes planos-sequência e as suas cinzentas e bolorentas literatices, curte preferencialmente filmes jovens e dinâmicos, com adolescentes bonitos, garotas boas de todos os dias, histórias engraçadas e artísticos e espectaculares efeitos especiais.
Isto não quer dizer que o cinéfilo SAD não vá de vez em quando a uma ou outra sessão de um dos inúmeros cine clubes que pululam no nosso continente, pois a fauna que dirige e frequenta esses clubes de cinema também é uma fauna cinéfila, embora antiquada e obsoleta.
O nosso cinéfilo SAD deve entrar discretamente no cine clube e depois de ocupar o seu lugar deve adormecer rapidamente ao fim da primeira bobina e deve também ressonar ruidosamente, em sinal de protesto contra a política de exibição dos cine clubes europeus, que há muitos anos se limitam a programar filmes senis para a terceira idade.
Depois desta infeliz experiência cineclubista, o nosso camarada cinéfilo só tem duas maneiras de se recompor do estado de sonolência em que ficou mergulhado: ou vai a algum bar e apanha uma valente bebedeira ou então vai para casa e vê durante toda a noite no seu televisor alguns dos filmes SAD em DVD que é obrigatório um cinéfilo SAD possuir.
E assim, títulos como A Praia, Romeu e Julieta, Doidos por Mary, Peggy Sue casou-se, Regresso ao Futuro, Clube dos Poetas Mortos, American Pie, Um Susto de Filme e muitos outros fazem parte de uma longa lista de obras-primas que o cinéfilo SAD deve obrigatoriamente ver.
Embora estes filmes não sejam na sua totalidade teen movies stricto sensu, todos eles são leves, frescos e descontraídos e nessa medida fazem lembrar a nouvelle vague que a revista Cahiers du Cinema, ontem como hoje na vanguarda do cinema, impulsionou com os textos e com os filmes dos seus principais redactores e críticos.
Mas a nouvelle vague morreu há muito tempo e o mais genial dos seus criadores, François Truffaut, também morreu. Já não temos a nouvelle vague, mas temos o SAD. E já agora, cumpre pôr em relevo a enorme importância que os filmes SAD tiveram no que se refere ao regresso dos espectadores às salas de cinema, depois de uma desertificação que muitos profetas da desgraça anunciaram como a morte da sétima arte.
Felizmente que assim não aconteceu e que o cinema está cada vez mais vivo e mais jovem, com o cinema dos Estados Unidos na crista da onda e com a globalização, que felizmente também é cultural, a levar a todo o mundo o SAD, os teen movies e o teen spirit americano.

CINEMA ERÓTICO E CINEMA PORNOGRÁFICO

O cinema erótico e o cinema pornográfico fazem parte de um vasto leque de géneros cinematográficos, nos quais também se incluem o cinema cómico, o cinema de terror, o cinema policial, o cinema de ficção científica, o western, o musical e mais alguns outros.
Convém desde já assinalar que alguns destes géneros, tais como o western e o musical, já há muito tempo que entraram em crise, de tal maneira que os filmes que hoje se fazem enquadrados nestas categorias são meras revivescências de um passado já morto.
Estranhamente ou talvez não, de todos os géneros cinematográficos, os que ainda hoje resistem melhor à erosão do tempo são o género erótico e o género pornográfico. E à semelhança do que acontece com todos os restantes géneros, é Hollywood quem está à frente na produção dos filmes enquadrados nestas duas categorias, embora seja em França que se lapidam os diamantes mais rutilantes do cinema do sexo.
Uma película recente, Boogie Nights (Noites de Prazer), de Paul Thomas Anderson, mostra bem os bastidores da produção dos filmes pornográficos, que ao fim e ao cabo são filmes como quaisquer outros, no que respeita à sua planificação, à sua filmagem, à sua montagem e à sua distribuição, só com a diferença de que em relação a este último aspecto estes filmes apenas passam nos circuitos paralelos. Mas o mesmo acontece com outros filmes não distribuídos pelas majors norte-americanas.
Não obstante todos estes condicionalismos, há filmes pornográficos que extravasam o submundo do género, conseguindo impor-se a todo o povo cinéfilo. Destes, o mais célebre é o mítico Garganta Funda, com um tema forte, insólito e original, já que a personagem principal goza intensamente com o sexo oral, pois tem um grande clitóris na garganta.
Mas há outros filmes pornográficos também de cinco estrelas, como é o caso dos filmes da série Emanuelle, com a doce e apetitosa Silvia Kristel, embora estes filmes sejam soft pornos, próximos do cinema erótico, e não hard cores.
Outro filme igualmente importante é o Romance, da inefável e erudita realizadora francesa Catherine Breillat, que se pode considerar um filme filosófico-pornográfico, pois a personagem principal, uma bela e deslumbrante rapariga casada, debita suculentas tiradas filosóficas enquanto é beijada, apalpada, lambida e possuída pelos seus amantes e ainda continua a filosofar depois dos coitos.
Por último há que referir o filme também francês Baise-moi, que em português, traduzido à letra, se chamaria Fode-me, de Virginie Despentes, que foi exibido, numa das noites longas da SIC, a altas horas da madrugada, e que nós gravámos para depois o vermos a horas decentes.
É um filme político-pornográfico rigorosamente fabuloso, pois associa uma pornografia agressiva e criminosa à revolta em relação à sociedade burguesa de duas garotas, muito atraentes e muito perigosas, dispostas a tudo para partir em cacos a família, o Estado, a moral e as leis do mundo reaccionário em que elas se recusam a viver.
No entanto, de uma maneira geral, os filmes pornográficos não têm uma temática, nem um enredo, nem uma substância semelhantes às dos filmes normais, pois limitam-se a reproduzir relações sexuais filmadas mecanicamente e nada mais.
É o caso dos filmes pornográficos de consumo corrente, os quais acabam por chatear as pessoas, que se deslocam às salas escuras ou se sentam diante de um televisor em busca de uma boa história com sexo e não somente de uma interminável série monótona de actos sexuais.
E realmente nós até concordamos que a maior parte dos filmes pornográficos são aborrecidos e repetitivos, pois nos mostram relações sexuais muito prolongadas, tornando-se obviamente maçadores quando não há uma história por detrás.
Ainda por cima, os realizadores destes filmes, em vez de filmarem em planos gerais a beleza dos corpos nus dos actores e das actrizes em harmoniosos movimentos eróticos, filmam em grandes planos os órgãos genitais em plena função, o que realmente não é nada estético, pois ver durante hora e meia densas florestas de pêlos à volta de enormes sexos e de abissais vaginas torna-se entediante e deixa de excitar ao fim da primeira bobina.
Por isso mesmo, nós preferimos os filmes eróticos. Embora estes filmes também apresentem relações sexuais explícitas, não as filmam da mesma maneira e nem sequer é obrigatório que um filme erótico contenha essas relações. É o caso, por exemplo, do filme Strip Tease, em que nós assistimos a todo o filme permanentemente excitados, apenas com a expectativa de vermos a escaldante actriz Demi Moore completamente nua.
A apetitosa sex symbol aparece mesmo nua e não com uma veste a imitar o nu e por isso recebeu um enorme cachet e teve que fazer uma operação plástica ao abdómen. Com Strip Tease, estamos no mundo de uma sexualidade light» que excita mas não envergonha.
E daí que as pessoas cultas e finas não desdenhem ver filmes eróticos e que as pessoas incultas e grosseiras optem por filmes pornográficos. É tudo uma questão de educação e de cultura. Mas, cultura e educação à parte, do que toda a gente gosta é mesmo de sexo e por isso nós pensamos que os géneros erótico e pornográfico são os géneros mais amados por todos, embora as pessoas guardem segredo desse a



CINEMA PORTUGUÊS



MANOEL DE OLIVEIRA, UM CINEASTA PORTUGUÊS EM ACELERADA DECADÊNCIA(PRIMEIRA PARTE)



“No Brasil, uma octogenária filmou durante dois anos, da janela do seu apartamento, o movimento diário de vendedores e de consumidores de droga da favela. As trinta e três horas de gravações foram entregues à polícia e levaram à prisão de mais de quarenta pessoas. Isto é um grande exemplo para todos, e mais especificamente para o Manoel de Oliveira. Afinal, uma pessoa de idade com uma câmara de filmar pode fazer coisas úteis.”Este texto, entre comas, não é da nossa autoria. É transcrito, com a devida vénia, do jornal Público, de 2 de Setembro de 2005, mas é um texto com o qual concordamos inteiramente, pois assenta como uma luva na última fase da carreira de Manoel de Oliveira. Realmente, os filmes que Manoel de Oliveira fez a seguir ao Vale Abraão são filmes que nada têm lá dentro, a não ser diálogos pomposos e retóricos e longos planos-sequência de um academismo serôdio. São, em suma, umas verdadeiras inutilidades.É certo que os defensores de Manoel de Oliveira se recusam a considerar os diálogos dos seus últimos filmes como pomposos e retóricos e negam também que o cinema mais recente do venerando cineasta tenha alguma coisa a ver com qualquer academismo. E é certo também que um crítico de cinema culto e inteligente, como é, indubitavelmente, João Bénard da Costa, se transforma estranhamente num reverente adulador quando se põe a criticar o cinema de Manoel de Oliveira.E só assim se compreende que para João Bénard da Costa todos os filmes de Manoel de Oliveira sejam obras-primas de cinco estrelas, incluindo nesse lote de pérolas cinematográficas aquelas obras mais medíocres que toda a gente vê à distância que são projectos cinematográficos de menor valor.Infelizmente, João Bénard da Costa não é uma voz isolada nesta adoração acrítica ao suposto mestre, pois são muitos os críticos de cinema que adoram acriticamente o mítico cineasta. E este fenómeno de menor uso da razão na actividade crítica não se verifica apenas em Portugal.Nós somos leitores assíduos dos Cahiers du Cinema e por isso estamos a par da posição crítica da revista de cinema francesa em relação a Manoel de Oliveira. E notamos com grande estranheza que qualquer filme de Manoel de Oliveira é considerado pelos críticos dos Cahiers du Cinema como uma obra-prima, à semelhança do que acontece em Portugal com João Bénard da Costa.Em relação a João Bénard de Costa, esta crítica irracional de elogio constante ao cinema de Manoel de Oliveira ainda se compreende. Com efeito, o João Bénard da Costa tem entrado em inúmeros filmes de Manoel de Oliveira, podendo até dizer-se que ele e o Luís Miguel Cintra são os actores mais utilizados pelo prolixo cineasta. E assim já se entendem melhor os elogios. No fundo, João Bénard da Costa paga com elogios os curtos e indigentes desempenhos como actor que Manoel de Oliveira lhe tem proporcionado.Já em relação aos Cahiers du Cinema, a aceitação acrítica que Manoel Oliveira tem no seio da revista é mais difícil de explicar. Claro que nós sabemos que Manoel de Oliveira tem à sua volta um poderoso lóbi e isso talvez explique não só o bom ambiente que tem na revista francesa como também os inúmeros prémios que tem recebido nos principais festivais internacionais.Tudo isto é muito grave, pois tudo isto se passa no seio de uma revista reputada em todo o mundo e que já foi considerada a Bíblia dos cinéfilos. Tudo isto é muito grave também, porque nos leva inevitavelmente à conclusão de que alguns dos críticos mais respeitados em todo o mundo não são pessoas sérias e que até os críticos dos Cahiers du Cinema enfermam dos mesmos defeitos da generalidade dos críticos portugueses.Que alguns críticos portugueses não são sérios já nós o sabíamos. Com efeito, quando frequentámos a Escola Superior de Cinema do Conservatório Nacional, lembramo-nos perfeitamente do Eduardo Prado Coelho, nosso professor da cadeira de Semiologia do Espectáculo, ter dito numa das aulas que os cineastas portugueses, quando realizavam um filme, convidavam normalmente alguns críticos amigos para desempenharem pequenos papéis, a fim de não fazerem uma apreciação negativa do filme, quando este tivesse a sua estreia nas salas comerciais.Toda esta refinada mistificação contribui para que Manoel de Oliveira tenha um estatuto de génio em Portugal e no estrangeiro. E também contribui para que se continuem a subsidiar com dinheiros públicos, saídos dos bolsos de todos nós, filmes caríssimos, cheios de vedetas estrangeiras. E o que é mais grave é que quase ninguém vê esses filmes. E é este o estado do cinema e da crítica cinematográfica em Portugal.Concluímos este artigo no próximo número.



MANOEL DE OLIVEIRA, UM CINEASTA PORTUGUÊSEM ACELERADA DECADÊNCIA

(SEGUNDA PARTE)



Manuel de Oliveira é um cineasta com uma idade já muito avançada, já muito perto dos cem anos, sendo, portanto, muito natural que tenha actualmente as suas capacidades mentais bastante diminuídas. No entanto, a sua acelerada decadência já começou há muito tempo, já há mais de vinte anos. E começou precisamente com o filme A Caixa (1994), um filme menor, baseado numa peça de Prista Monteiro, um autor teatral português insignificante, com Luís Miguel Cintra no principal papel. Mas no período áureo da sua carreira Manuel de Oliveira fez vários filmes muito bons, entre os quais destacamos os filmes que referiremos a seguir.Em primeiro lugar cabe-nos destacar Aniki-Bobó (1942), um filme poético e ligeiro, de uma grande beleza, que nos narra as vivências de algumas crianças nas ruas do Porto. Em segundo lugar cabe-nos destacar O Acto da Primavera (1963), que é a filmagem de uma peça sobre a paixão de Cristo representada durante a semana santa pela população da aldeia transmontana da Curalha. Nós vimos este filme aquando da sua estreia no Cinema Império, em Lisboa, e guardamos dessa visão uma recordação inolvidável da sua frescura, da sua espontaneidade e da genial utilização da cor que no filme Oliveira faz.Outros filmes a destacar são O Passado e o Presente (1971), Benilde ou a Virgem Mãe 1975) e o Amor de Perdição (1978). Este último filme, que tem a duração de mais de quatro horas, é um longo e lento desenrolar de planos, que anuncia o pior Oliveira, aquele cujos filmes dão vontade de dormir. Mas não obstante o Amor de Perdição ser uma enorme seca, ainda assim tem momentos fulgurantes, que levaram o genial crítico de cinema Serge Danei a considerá-lo um dos melhores filmes de todos os tempos. Enfim, exageros toda a gente os tem.O último filme a destacar é o Vale Abraão (1993), baseado num romance de Agustina Bessa-Luís, com a belíssima actriz Leonor Silveira no papel principal. Antes desse filme, Manoel de Oliveira tinha realizado um projecto megalómano, que foi um completo falhanço. Estamos a referir-nos ao Non ou a Vã Glória de Mandar (1990), um filme de grande orçamento para a época, com um dos seus actores habituais, Luís Miguel Cintra, no papel principal.Este filme, que trata das derrotas e dos principais desastres da história de Portugal, é quase um filme cómico, já que nele aparecem muitas batalhas, que dão vontade de rir, pois Manuel de Oliveira não sabe filmar batalhas. Ainda há pouco tempo vimos em DVD o genial filme de David Griffith O Nascimento de uma Nação e ficámos estupefactos com a maneira épica, espectacular e ao mesmo tempo cinematograficamente deslumbrante com que Griffith filmou as batalhas que pontuam o filme.Comparando os dois filmes, é incrível constatar que Griffith filmava melhor as batalhas no princípio do século passado do que Manoel de Oliveira as filmava quase no fim do mesmo século. Até dá a impressão de que o cinema não progrediu nada, só regrediu. Mas tudo isto se explica, pois Griffith, para além de ter inventado a linguagem das imagens em movimento, é um génio eterno do cinema, enquanto Manoel de Oliveira é um cineasta apenas um pouco acima da média, que ainda por cima, na altura em que fez o filme, estava prestes a entrar num período de acelerada decadência.Neste último período de acelerada decadência, Manoel de Oliveira, à semelhança de muitas mulheres que ficam com mais desejos sexuais depois da menopausa, tem sido excepcionalmente fértil, com uma média de quase um filme por ano, mas a verdade é que nesta época mais recente quase só saíram abortos da cabeça de Manoel de Oliveira.São filmes na sua grande maioria adaptados de romances de Agustina Bessa-Luís e até se dá o caso da maior parte desses filmes terem como intérpretes grandes vedetas do cinema internacional, tais como John Malkovich, Catherine Deneuve, Michel Piccoli e Irene Papas.Num desses filmes até saímos a meio, pois não aguentámos vê-lo até ao fim. Estamos a referir-nos ao filme Um Filme Falado, interpretado por um elenco de luxo. Neste filme é tal o convencionalismo da realização e é tal a vacuidade dos diálogos que mete pena ver actores e actrizes de enorme renome metidos no meio de um filme tão medíocre, com pretensiosas tiradas políticas, filosóficas e morais que são autêntica conversa da treta a encher o filme do princípio ao fim.E é assim que um cineasta, que já foi considerado um cineasta da palavra em filmes importantes como o Amor de Perdição e o Benilde ou a Virgem Mãe se arrasta numa total impotência criativa, de tal maneira que hoje, mais que um cineasta da palavra, Manoel de Oliveira deve ser considerado um cineasta da treta.



JOÃO BÉNARD DA COSTA, O SALAZAR DA CINEMATECA

(PRIMEIRA PARTE)


Desde já esclarecemos os nossos leitores de que o João Bénard da Costa é um democrata e um antifascista e que portanto não é por motivos políticos que o podemos comparar a António de Oliveira Salazar, que, como se sabe, odiava a democracia e que na sua prática política foi um ditador e um fascista. Além do mais, o João Bénard da Costa é uma pessoa muito culta e com uma grande erudição, embora às vezes escreva sobre assuntos acerca dos quais percebe muito pouco.É o caso, por exemplo dos artigos que costuma escrever no Público sobre artes plásticas, em que se limita a fazer uma apreciação meramente iconográfica e superficial de certas obras de arte que teve oportunidade de contemplar nas suas múltiplas viagens pelo estrangeiro, principalmente por Itália.Mas mesmo em relação aos escritos sobre cinema, o João tem-se limitado ultimamente a escrever artigos em memória de actrizes, de actores e de cineastas falecidos, numa escrita necrológica de biografias de algumas pessoas ilustres da sétima arte, mais própria de um jornalista tarefeiro especialista em obituários do que de um eminente crítico de cinema.Nós conhecemos o João quando frequentámos a Escola Superior de Cinema do Conservatório de Lisboa, onde foi nosso professor de história. Não história do cinema, mas história em geral. A opinião com que dele ficámos não foi a melhor, pois o João pareceu-nos na altura um sujeito pedante e pretensioso. Mas não obstante todos os seus inúmeros defeitos, o João Bénard da Costa tem pelo menos duas virtudes: é cinéfilo e é democrata.Quanto a Salazar, era professor catedrático das Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra na área das Finanças e tinha apenas a cultura inerente ao seu grau académico, quer dizer, percebia de Direito e de Finanças e de pouco mais. Em relação a uma cultura humanista propriamente dita, os seus conhecimentos deixavam muito a desejar.Esta era aliás uma situação semelhante á de muitos licenciados em Direito que nós conhecemos durante aquela parte da nossa vida em que exercemos a advocacia. Esses nossos colegas eram brilhantes advogados e excelentes magistrados, mas fora do campo do Direito não tinham cultura suficiente que lhes permitisse falar com conhecimento de causa de cinema, de literatura, do último filme estreado ou do último romance publicado.Voltemos agora a António de Oliveira Salazar. Como já dissemos no começo deste artigo, Salazar foi um fascista e um ditador. No entanto, tudo isto não seria muito grave se Salazar se tivesse retirado da política depois de ter saneado as finanças portuguesas, bastante abaladas pela balbúrdia, pela anarquia e pelo caos político em que a primeira república mergulhou o nosso país.Mas infelizmente Salazar não se limitou a sanear as finanças portuguesas. Quis manter-se no poder a todo o custo, mesmo quando as condições externas já não lhe eram muito favoráveis. Efectivamente, as derrotas dos nazis alemães e dos fascistas italianos na segunda guerra mundial foram uma derrota também para Salazar.É certo que ele manteve uma política de prudente neutralidade em relação aos beligerantes, mas nós sabemos que essa neutralidade não era igual para os dois lados. Com efeito, todas as simpatias de Salazar iam para os governos ditatoriais da Alemanha e da Itália, com os quais se identificava. E só no fim da guerra, quando já se adivinhava a vitória dos aliados, é que Salazar se decidiu a colaborar, embora contrariado, com as nações democráticas no esforço final da guerra.Na euforia de liberdade que se seguiu ao fim da guerra, estava prevista uma ajuda norte-americana aos democratas espanhóis para derrubarem o ditador Francisco Franco, mas o Presidente Truman acabou por desistir da ideia, devido ao avanço do comunismo na Europa e à instauração de um clima de guerra fria entre os Estados Unidos da América e os seus aliados, por um lado, e a União Soviética e os países comunistas que estavam sob o seu domínio, pelo outro lado.Este clima de guerra fria ajudou Salazar a aguentar-se no poder e até contribuiu para que Portugal entrasse na NATO como membro fundador, o que foi uma proeza inédita de Salazar, pois a NATO apenas incluía países democráticos. Mas Salazar, com a palhaçada das eleições periódicas que entretanto, para inglês ver, promoveu em Portugal, lá conseguiu convencer o mundo inteiro da legitimidade das instituições políticas portuguesas.Salazar ainda logrou sobreviver ao descrédito que internacionalmente lhe trouxe a campanha do grande e corajoso General Humberto Delgado nas eleições presidenciais de 1958. E só saiu finalmente do poder depois de ter caído de uma cadeira na sua residência de férias em São João do Estoril. Tudo isto aconteceu no tempo de um regime ditatorial e por isso só uma queda dramática para trás, batendo com a cabeça no chão, com a consequente incapacidade para o exercício das suas funções de Presidente do Conselho, é que possibilitou a destituição de Salazar e a nomeação de Marcello Caetano para o seu lugar.


JOÃO BÉNARD DA COSTA, O SALAZAR DA CINEMATECA

(SEGUNDA PARTE)


Já há muito tempo que em Portugal vivemos em democracia. Mas certas pessoas não aprenderam nada com a democracia e preferem eternizar-se nos cargos, seguindo o mau exemplo de Salazar. É o caso do João Bénard da Costa, que pelos vistos se quer manter no cargo de Presidente da Cinemateca Nacional. O próprio João Bénard da Costa até já disse, num artigo escrito no jornal Público, que depois da saída dele da Cinemateca seria o dilúvio. Ora esta frase não é nova, até já a tínhamos ouvido antes, precisamente da boca de Salazar, a propósito de uma possível afastamento do ditador da chefia do governo.Segundo parece, a Ministra da Cultura, numa primeira fase, teria decidido não reconduzir o presidente da Cinemateca Portuguesa, em virtude deste ter ultrapassado a idade limite para estar em funções. Mas entretanto surgiu uma petição na Internet que defende a continuação de João Bénard da Costa à frente da presidência da Cinemateca, petição essa que recolheu centenas de assinaturas.Foi depois da aparição dessa petição com centenas de assinaturas na Internet que a Ministra da Cultura, Dra. Isabel Pires de Lima, mudou de ideias e resolveu manter o João Bénard da Costa na presidência da Cinemateca. E em conformidade com esta decisão, a Ministra da Cultura disse que tinha a intenção de convidar o Dr. João Bénard da Costa a ficar e disse também que, caso ele aceite, dada a situação excepcional do ponto de vista legal, faria uma proposta ao primeiro-ministro nesse sentido.A Ministra da Cultura disse ainda que tem o maior apreço pelo trabalho desenvolvido pelo Dr. João Bénard da Costa na Cinemateca e que, por esse motivo, vê com bons olhos a sua continuidade no cargo. Acontece que nem toda a gente é da opinião dos peticionários da Internet ou da opinião, pelos vistos tardia, da Ministra da Cultura.Por exemplo, numa entrevista concedida ao Jornal do Centro e transcrita no jornal do Cine Clube de Viseu, o conceituado crítico de cinema Jorge Leitão Ramos constata que a principal actividade da Cinemateca Portuguesa tem sido a divulgação do grande património internacional da arte cinematográfica e afirma que nisso tem cumprido bem o seu papel.Mas acrescenta que essa não deve ser a principal vocação da Cinemateca Portuguesa. Para Jorge Leitão Ramos a principal função de uma cinemateca deve ser a preservação patrimonial de filmes, fotografias, livros, cartazes, documentação e espólios. E a vocação fundamental da Cinemateca Portuguesa deve ser a de fazer isso em relação ao cinema português. E conclui que no actual modelo de gestão isso não tem sido considerado prioritário.Com o agrado de alguns e com o desagrado de outros, acontece que o João Bénard da Costa já está na Cinemateca há vinte e seis anos, desde 1980, tendo desempenhado as funções de subdirector durante uma década, e desempenhando desde a morte do então presidente Luís de Pina as funções de presidente. Claro que Salazar esteve mais tempo sentado nas cadeiras do poder, mas o João Bénard da Costa, se Deus lhe der longa vida e muita saúde, também para lá caminha.E com as reconduções excepcionais que o trabalho ímpar por ele desempenhado na Cinemateca para alguns justifica, nem vale a pena preocupar-nos com a Cinemateca durante os próximos trinta anos. E quando o João fizer cem anos, será a altura apropriada do Ministério da Cultura o reconduzir mais uma vez e de lhe fazer uma sentida homenagem.O João Bénard da Costa, pelos vistos, quer manter-se no cargo até morrer. Pessoas como esta não respeitam o princípio da renovação dos cargos, querem manter-se o mais longo tempo possível no poder, até caírem de podres ou até caírem da cadeira, tal como aconteceu a Salazar. Mário Soares também queria ser Presidente da República até morrer.Mas em relação a Mário Sores esse desejo de longa vida no poder era muito mais difícil de satisfazer, pois teve que concorrer a umas sempre incómodas eleições presidenciais. E felizmente que a maioria dos eleitores deu a vitória a Cavaco Silva e ainda deu o segundo lugar a Manuel Alegre. Realmente, não era muito interessante eleger pela terceira vez um Presidente da República octogenário.Em relação ao João Bénard da Costa, no entanto, não são necessárias nenhumas eleições. Basta uma petição na Internet favorável à continuação do João como Presidente da Cinemateca Portuguesa, petição essa que funciona como um plebiscito, e a decisão da Ministra da Cultura em reconduzir o homem.E o João até é muito popular, tanto à direita como à esquerda. Com efeito, os peticionários da Internet até põe de parte a sua ideologia e privilegiam acima de tudo o João quando se trata de apoiar o João. E nós também fazemos votos para que o João continue, até cair de podre ou até cair da cadeira, a bem do cinema e da nação.

DVDs.


A GRANDE REVOLUÇÃO DIGITALE O UNIVERSO PUJANTE DOS DVDS


O mercado dos DVDs mostra-se cada vez mais pujante no nosso país, tanto na quantidade como na qualidade dos filmes em formato DVD cujo lançamento é periodicamente anunciado nos órgãos de comunicação social. E desde já alertamos os nossos leitores que ultimamente têm aparecido muitos filmes de grande qualidade em formato DVD.E cumpre referir que a comercialização dos filmes em formato DVD se faz actualmente muito pouco tempo depois da saída dos filmes das salas de cinema, pois o prazo entre a exibição dos filmes nas salas e o lançamento dos mesmos filmes em formato DVD foi ultimamente bastante encurtado.Claro que este encurtamento do prazo tem consequências em relação à exibição dos filmes nas salas, pois um possível candidato a espectador, sabendo que um determinado filme vai estar disponível num curto espaço de tempo em formato DVD, já o não vai ver a uma sala de cinema.Nós consideramos, portanto, errada esta redução do prazo para o lançamento de um filme em DVD, pois é mais um factor, e um factor importante, a contribuir para a desertificação das salas de cinema, que hoje se verifica em Portugal e aliás também em quase todo o mundo.Isto não acontecia com as cassetes vídeo, pois a imagem e o som de uma cassete vídeo são muito inferiores à imagem e ao som de um filme projectado numa sala de cinema. Mas com o DVD é tudo completamente diferente, pois enquanto a imagem de um vídeo VHS é formada por 210 linhas, a imagem de um DVD é formada por 540 linhas. Com mais do dobro das linhas, a imagem de um DVD tem uma definição muito melhor e tem portanto uma qualidade incomparavelmente superior.E quanto ao som de uma aparelhagem completa de DVD, não há qualquer comparação com o som de um vídeo, pois no primeiro caso ele sai de cinco colunas e de um subwoofer, sendo este último também conhecido e designado, em linguagem não técnica, como a coluna dos graves. Com uma aparelhagem de DVD, temos portanto a possibilidade de ter em nossa casa um sistema com seis pistas de áudio, o que é muitíssimo bom, pois inclusivamente há muitas salas de cinema que não têm estas condições.Tudo isto mostra que o presente e o futuro do cinema passam pelo DVD e que portanto o DVD veio para ficar. Esta revolução é de tal maneira esmagadora que nós pensamos que o sistema analógico e o sistema fotográfico vão ser completamente ultrapassados pelo sistema digital. E deste facto também se conclui que a película que se utiliza hoje na quase totalidade das salas de cinema já não tem grande razão de ser.Por outro lado, com o DVD nós podemos ver um filme com maior rigor analítico do que num visionamento normal numa sala de cinema. Efectivamente, com um comando adequado e com um leitor de DVD, podemos facilmente andar com um filme para trás e para a frente, podemos avançar ou recuar capítulos, podemos repetir a visão das sequências mais emblemáticas, podemos analisar uma sequência imagem a imagem, podemos enfim ver um filme de uma maneira mais abrangente e mais profunda.Para além de tudo isto, que já não é pouco, podemos usufruir em DVD todo um conjunto de materiais suplementares, os chamados extras, que não temos qualquer hipótese de ver numa sala de cinema. Destes extras fazem normalmente parte o making of do filme, as entrevistas com os actores e com as actrizes principais, com o realizador, com o produtor, com o argumentista, com o director de fotografia, bem como com alguns outros responsáveis técnicos e artísticos.Ver um filme em DVD é para nós um encantamento e um regresso ao paraíso. Quando vemos um filme em DVD, nós temos a sensação de regressar à Escola Superior de Cinema do Conservatório Nacional e nessa escola de cinema temos a sensação de regressar às aulas de prática cinematográfica na sala da moviola, onde montámos os filmes que realizámos no nosso curso de cinema e onde estudámos muitos filmes, da mesma maneira que actualmente estudamos os filmes mais importantes que vemos em DVD.

DUAS OBRAS-PRIMAS INCONTORNÁVEISEM FORMATO DVD: PAMPLINAS MAQUINISTAE O MUNDO A SEUS PÉS


Dissemos num dos derradeiros artigos que publicámos neste jornal que ultimamente têm aparecido filmes com muita qualidade no mercado dos DVDs. Hoje vamos referir-nos a duas obras-primas incontornáveis, para as quais chamamos desde já a atenção dos nossos leitores. Trata-se de dois filmes americanos fabulosos, que nós consideramos entre os dez melhores filmes de sempre de toda a história do cinema.Os dois filmes que vamos sucintamente analisar são o Pamplinas Maquinista, de Buster Keaton e O Mundo a seus Pés, de Orson Welles. Quanto ao filme de Buster Keaton, podemos dizer que mudou de nome, pois o título pelo qual era conhecido era A General (o nome da máquina), título esse que aliás correspondia ao título original do filme, precisamente The General.Quando agora o filme apareceu em formato DVD com o título Pamplinas Maquinista, nós tivemos dúvidas se seria o mesmo filme que tínhamos visto há mais de trinta anos no canal dois da RTP dos tempos do fascismo, no programa Museu de Cinema, do reaccionário mas culto e cinéfilo realizador e crítico António Lopes Ribeiro.E é efectivamente o mesmo filme. E ainda por cima o DVD do filme é realmente uma versão digital absolutamente fabulosa. Nós efectivamente jamais tínhamos visto as magníficas imagens captadas pelo operador de câmara e director de fotografia Mathew Brady reproduzidas com tão luminoso esplendor.É que o filme, no aspecto estético e visual tem tanta força e tanta plasticidade como a obra-prima de Charlie Chaplin, A Quimera do Ouro, que é também um filme genial feito pelo génio supremo da arte cinematográfica. Mas além do aspecto visual, há que salientar no Pamplinas Maquinista todas as inolvidáveis imagens da guerra da secessão americana, que o filme nos mostra num triplo registo, entre a farsa, a tragédia e a epopeia, absolutamente inovador.A bela figura de homem de Buster Keaton, com um dos mais formosos rostos da história do cinema, aparece-nos neste filme umbilicalmente ligada à sua máquina de comboio, de que ele aliás gostava tanto como da sua namorada. E assim, The General, para além de um incontornável filme de guerra, é também uma das mais belas histórias de amor da história do cinema.Só um cineasta sobredotado como Keaton podia fazer um filme cómico sobre a guerra civil americana e ao mesmo tempo não perder de vista o registo sério que uma guerra necessariamente veicula. Para além do mais, A General é o filme onde Keaton atinge a máxima perfeição no seu cinema à base de gags cuidadosamente planificados e realizados, com a mestria absoluta dos grandes mestres.Quanto ao outro filme, O Mundo a seus Pés, de Orson Welles, que inaugurou a colecção de clássicos em DVD do jornal Público, é um filme admirável, que tem sido considerado pela maior parte dos críticos de todo o mundo como o melhor filme de todos os tempos.Este filme fabuloso conta a investigação levada a cabo por um jornalista para descobrir o sentido da última palavra proferida pelo magnata da imprensa Charles Foster Kane antes de morrer, a célebre palavra ROSEBUD, porque, segundo ele, as últimas palavras de um homem devem explicar a sua vida. A sua investigação leva-o junto de cinco pessoas, que contam a história de Kane de cinco maneiras diferentes.Para além da inovação ao nível do argumento, já referida, da história ser contada a partir de cinco pontos de vista diferentes, o filme de Orson Welles apresenta importantes inovações sob o ponto de vista formal que o tornaram na época um filme absolutamente revolucionário.Essas inovações são a utilização sistemática do plano-sequência, que consiste em filmar uma cena sem a dividir em diversos planos. A divisão de uma cena em diversos planos era a maneira como se fazia até aí a découpage tradicional. Esta inovação deve-se à ligação de Orson Welles ao teatro e à sua visão da cena através da inserção dos actores no cenário.Outra inovação formal é a utilização da profundidade de campo e da técnica das grandes angulares, através das quais são visíveis no ecrã não só as cenas que têm lugar no primeiro plano, mas igualmente as cenas que se desenrolam mais atrás, o que, dada a simultaneidade da apresentação dos acontecimentos, acrescenta ao filme uma grande tensão dramática.Essa tensão dramática é ainda intensificada nas cenas de interiores pela utilização quase permanente das filmagens em contrapicado, as quais criam em todo o filme uma impressão de drama, de conflito e de esmagamento das personagens.Com todas estas inovações formais, que reduzem drasticamente o número de planos do filme e inauguram uma nova linguagem cinematográfica, Orson Welles, com a idade de 25 anos, realizou a sua primeira obra e a sua obra-prima absoluta. Este filme, que parece ter-se inspirado na vida do magnata da imprensa Wllliam Randolph Hearst, foi um êxito para a crítica coeva, mas, dada a sua complexidade ao nível das formas e do argumento, não foi um êxito de bilheteira, pois estava muito acima da idade mental do espectador americano médio da época.

9/07/2008

TURISMO ESPECIAL



AS CASAS DE MASSAGENS
DE SALVADOR DA BAHIA

A componente sexual é hoje em dia uma parte importantíssima da oferta turística e há mesmo certos países que fazem uma propaganda enorme dessa variante do turismo, como é o caso da Tailândia. Em relação ao Brasil, nós desconhecíamos qualquer propaganda nesse sentido. Quando iniciámos a nossa viagem de dezoito dias a esse país imenso apenas sabíamos que o Brasil, como qualquer país civilizado que se preze, tem nas suas cidades as suas casas de strip tease, as suas boites, os seus cabarets e as suas zonas de bordéis e de casas de massagens.
No segundo dia da nossa estadia em Salvador da Bahia, a primeira cidade do nosso périplo brasileiro, depois de visitarmos o seu importante centro histórico na parte da manhã, resolvemos ir à praia na parte da tarde e por isso mesmo perguntámos ao porteiro do nosso hotel qual seria a praia mais adequada para passarmos umas horas à beira mar, dado que Salvador tem inúmeras praias e dado que nós pretendíamos uma praia que não ficasse muito longe do hotel, pois teríamos que nos deslocar de táxi.
O porteiro do hotel sugeriu-nos que fôssemos à praia da Barra e como nós tivéssemos concordado com a sua sugestão não só nos chamou um táxi como combinou logo com o taxista o preço que teríamos que pagar. Uma vez dentro do táxi, o taxista, que era um indivíduo de raça negra com cerca de cinquenta anos, começou por nos dizer que a praia da Barra era uma praia poluída, frequentada por gays e por lésbicas, e que por todos esses motivos nos desaconselhava essa praia.
Na opinião desse taxista, devíamos ir para uma praia muito mais distante, pois as praias dentro do perímetro da cidade de Salvador estavam todas poluídas, devido a nelas desembocarem os esgotos. Mas nós desconfiámos que ele nos dava este conselho para nos cobrar uma viagem mais longa e consequentemente dissemos-lhe para seguir para a praia que o porteiro do hotel nos tinha aconselhado.
No entanto, passados alguns instantes, o taxista voltou à carga, já não para nos aconselhar uma praia melhor, mas para nos sugerir uma outra opção. E então começou a falar-nos de uma casa de massagens que conhecia, chamada Relax, com garotas muito jovens e muito bonitas. E ainda acrescentou que essa opção seria muito melhor do que a da praia da Barra e além disso seria muito mais quente.
Embora as praias de Salvador sejam quentíssimas, como pudemos comprovar nos dias seguintes, pois até apanhámos um escaldão nas costas,
acreditámos piamente na afirmação do taxista e nessa conformidade logo nos apressámos a perguntar-lhe qual o preço que teríamos que pagar por um programa com uma dessas garotas da Relax, ao que ele nos informou que o preço era de cento e cinquenta reais, mais ou menos cinquenta euros, por um programa de uma hora.
Entretanto, nós lembrámo-nos de repente que só levávamos o dinheiro suficiente para a ida à praia e para o respectivo regresso e logo explicámos ao taxista essa situação, acrescentando que, em consequência, a visita à casa de massagens estava fora de questão. Mas o taxista logo nos ripostou que isso não tinha nenhuma importância, pois ele adiantaria os cento e cinquenta reais e nós pagar-lhe-íamos essa quantia quando chegássemos ao hotel.
Com tais argumentos e com tanta confiança em nós da parte de uma pessoa que não nos conhecia de lado nenhum, não tivemos outro remédio se não ir à Relax. E aliás ainda fomos, com o mesmo motorista, no penúltimo dia da nossa estadia em Salvador, a outra casa de massagens, um tanto ou quanto semelhante à Relax, mas mais sofisticada, com um pouco mais de luxo e com camas redondas, o que dá muito jeito para as massagens e para o resto. Razão tinha Leonardo da Vinci quando dizia que a esfera era a figura geométrica mais perfeita.
Claro que nós fomos a essas casas de Salvador principalmente por motivos jornalísticos, com a finalidade de conhecer a realidade actual da oferta turística sexual brasileira. E a verdade é que não ficámos desiludidos com a amostra que nos foi dada na cidade de Salvador. Com efeito, as duas casas que visitámos são duas casas limpas e agradáveis, com um aspecto muito melhor do que o dos nossos bordéis, com estacionamento privativo e com gerentes muito competentes que nos receberam muito amavelmente e nos apresentaram às garotas.
Quanto às garotas, elas portam-se como garotas e não como prostitutas, exibindo muito discretamente os seus encantos diante de nós. Escusado será dizer que a maioria das miúdas são realmente muito belas, são garotas de calendário, como dizem os brasileiros, e que os programas são muito bons, consistindo em primeiro lugar em tomar um banho de chuveiro com a moça escolhida. Depois do banho de chuveiro a menina faz-nos uma massagem completa, que dura mais ou menos quarenta minutos, e o programa prossegue com os beijos e carícias que antecedem o coito e termina com a relação sexual propriamente dita.
O programa é de uma hora e nós podemos garantir aos nossos leitores que se trata de uma hora inolvidável. Com garotas destas até um velho de duzentos anos teria erecção. No próximo artigo, continuaremos a falar do turismo sexual em outras cidades e regiões do Brasil que também visitámos.

UMA GAROTA CABOCLA
NO MEIO DA FLORESTA AMAZÓNICA

O avião começou a descer e nós começámos a ver ao longe uma cidade e um aeroporto no meio de uma imensa floresta. Depois de termos estado cinco dias em Salvador da Bahia e três dias em Brasília, eis que finalmente tínhamos chegado à antiga capital da borracha, à mítica cidade da Amazónia, à celebérrima Manaus do teatro de ópera no meio da selva.
Quando finalmente fizemos o city tour de Manaus, uma cidade equatorial com temperaturas médias acima dos quarenta graus, depois de termos visitado o seu lindo teatro de ópera e os seus bairros residenciais da era colonial, o nosso guia mostrou-nos uma área imensa a que chamou muito apropriadamente o putódromo, na qual se encontram os bordéis, as casas de massagens, as casas de «strip tease», os bares com miúdas de engate e outras casas do género.
E o nosso guia logo nos disse que em Manaus a maior parte das garotas de programa são caboclas ou cafuzas, isto é, filhas de índio e de branca ou filhas de índio e de negra (e vice-versa). E ainda acrescentou que essas meninas eram quentíssimas, proporcionando aos felizardos que fizessem amor com elas uma experiência sexual absolutamente inesquecível.
Embora Manaus não seja uma cidade muito grande em termos brasileiros, pois tem apenas cerca de um milhão e quinhentos mil habitantes, a verdade é que ocupa uma grande extensão de terreno, pois não tem prédios muito altos. E como se deu a circunstância do hotel em que ficámos hospedados, o Hotel Tropical Manaus, ficar a cerca de vinte e três quilómetros do centro da cidade, não tivemos qualquer possibilidade de ir ao putódromo de Manaus, pois isso seria muito caro. E além disso, no dia seguinte teríamos que partir para um hotel no meio da floresta amazónica.
No segundo dia da nossa estadia no hotel no meio da floresta, em conversa com uma pessoa que tínhamos conhecido há pouco tempo no hotel, lamentámo-nos de não ter ido ao «putódromo» de Manaus e confessámos-lhe a nossa frustração por não ter tido uma experiência sexual com uma moça cabocla. E perguntámos-lhe se não seria possível irmos nessa noite ao «putódromo», ao que o nosso interlocutor nos respondeu que isso era muito complicado e muito dispendioso, pois implicava uma viagem de barco e uma longa viagem de táxi.
Enfim, conformados e resignados, lá comunicámos ao nosso amigo que o encontro por nós pretendido com uma garota cabocla estava fora de questão. Mas depois de uma breve hesitação o nosso interlocutor ripostou-nos que talvez nos arranjasse uma menina com sangue índio; e logo a seguir, via telemóvel, contactou com uma garota, que nos apresentou no dia seguinte e que nós discretamente levámos para o nosso apartamento.
O preço combinado foi de cem reais, mais ou menos trinta e três euros, para um programa de uma hora. Depois de entrarmos no nosso apartamento, convidámos a menina cabocla a tomar um banho de chuveiro, pois já sabíamos que no Brasil, um país quentíssimo, é sempre assim: começa-se com um banho partilhado. A menina já tinha mais de vinte anos, mas era muito infantil, muito engraçada, brincou muito connosco e nós ficámos deliciados com tão encantador prefácio.
Após o refrescante prolegómeno, avançámos para as fases seguintes e aí pudemos comprovar tudo o que o nosso guia de Manaus nos tinha dito acerca das garotas caboclas: que têm uma língua áspera, agressiva e ao mesmo tempo meiga e doce e que não a usam somente para falar; e que durante todo o relacionamento sexual, incluindo a fase inicial e a fase intermédia, abraçam o parceiro como se quisessem entrar por ele adentro e cravam-lhe as unhas nas costas e mesmo mais abaixo como se pretendessem lancetá-lo todo.
A garota cabocla com quem estivemos a fazer amor, e não Gabriela, a do cravo e canela, é para nós o símbolo sexual da nação brasileira. Com efeito, a figura criada pelo genial romancista Jorge Amado é apenas uma bela mulata e portanto não tem o sangue dos autóctones que em mil e quinhentos, em Porto Seguro, assistiram ao desembarque de Pedro Álvares Cabral.
Na verdade, nós só tivemos a intensa sensação de possuir o Brasil profundo da história e da lenda depois de toda a nossa intensa odisseia sexual com a garota cabocla na cama dura de um hotel em plena selva. A nossa estadia na floresta amazónica não estaria completa sem esse contacto profundo com as origens da nação brasileira. A pequena índia que nós tivemos nos braços é no fundo o grande ícone deste imenso país.
Depois de toda esta nossa intensa odisseia pelas veredas mais esconsas do corpo animal de uma vibrante indígena e pelos lugares mais recônditos da grande Amazónia, nada mais nos restava do que regressar ao Brasil turístico e civilizado das grandes cidades. Mas o Brasil de betão e de cimento não vale nada quando comparado com o Brasil do Rio Negro e do Rio Amazonas, com o Brasil das cobras e dos jacarés, com o Brasil dos abismos insondáveis da floresta, com o Brasil dos caminhos índios da selva.


TURISMO CULTURAL E SEXUAL EM SÃO PAULO
QUADROS E GAROTAS PARA TODOS OS GOSTOS

São Paulo, cidade fundada pelo padre jesuíta José Anchieta, deve o seu nome ao facto de a primeira missa realizada no seu núcleo territorial inicial pelo Padre Paiva ter tido lugar no dia 25 de Janeiro de 1554, dia dedicado ao apóstolo Paulo no calendário cristão. São Paulo é uma cidade enorme e nós logo nos apercebemos disso quando o avião que nos transportou iniciou a sua descida rumo ao aeroporto internacional de Guarulhos.
Depois de termos passado quatro dias em plena selva amazónica, eis que nós nos aproximávamos de uma outra selva, a selva urbana de betão e de cimento da maior cidade do Brasil e da terceira maior cidade do mundo. Mas São Paulo não é a cidade feia que toda a gente diz que é, sem a conhecer. É verdade que tem grandes avenidas, a maior das quais tem cerca de doze quilómetros, e muito trânsito automóvel, como é natural.
Mas tem também, em compensação, muitos espaços verdes, entre os quais cumpre destacar o Parque de Ibirapuera, que é um parque enorme, com vários lugares para a prática de diversos desportos e com dois edifícios de índole cultural importantíssimos: a OCA e o MAM (Museu de Arte Moderna), duas construções destinadas a exposições de artes plásticas.
Destes dois belíssimos espaços culturais, cumpre destacar a OCA, que é um edifício branco em forma de meia esfera, embora anguloso no cimo. Nesta moderna e sugestiva construção, projectada por Óscar Niemeyer, vimos uma fabulosa exposição de Pablo Picasso, com cento e vinte e seis telas, desenhos, cerâmicas e esculturas, que vieram propositadamente do Museu Picasso, de Paris, em oito aviões.
Não muito longe destes museus e do Parque de Ibirapuera, fica o MASP (Museu de Arte de São Paulo), que é o maior e mais importante museu de artes plásticas do Brasil. Basta subir cinco ou seis blocos na Avenida Brigadeiro Luís António e virar à esquerda na Avenida Paulista.
Percorridos cerca de quatrocentos metros nesta última avenida, logo deparamos com um imponente edifício em forma de paralelepípedo de vidro, que parece suspenso no ar, mas que na realidade está apoiado em quatro colunas vermelhas.
O MASP funciona precisamente dentro deste paralelepípedo e nós visitámos durante quatro horas todo o museu, contemplando embevecido o seu valioso acervo, com as suas colecções de arte brasileira, de arte italiana, de arte da Península Ibérica, de arte do centro e do norte da Europa e de arte francesa, incluindo a Escola de Paris.
Claro que nestas colecções estão representados os melhores pintores a nível mundial, tais como Portinari, Botticelli, Rafael, El Greco, Velazquez, Goya, Picasso, Manet, Degas, Renoir, Van Gogh, etc. É curioso que na colecção da Península Ibérica também se encontram alguns artistas portugueses, tais como Malhoa, Columbano e Teixeira Lopes.
Mas São Paulo não é só a capital cultural do Brasil. É também a sua capital financeira e gastronómica. E no que respeita ao turismo sexual é de longe a cidade mais evoluída do Brasil. Tem uma área enorme reservada a casas de massagens e a bares de engate e tem bordéis em todos os bairros da cidade. Se no entanto o turista não quiser sair de casa, pode arranjar uma garota no próprio hotel onde estiver instalado.
Basta pedir na recepção do hotel a revista Magazine, a qual traz, entre outros assuntos, dezenas de fotografias de garotas. O cliente só tem que escolher uma delas e solicitar pelo telefone à recepção do hotel que a contacte e que posteriormente a introduza no seu apartamento. E ainda há esquemas especiais de acompanhantes para executivos ou para quem pretenda uma menina a tempo inteiro durante toda a estadia.
Em São Paulo, nós jantámos sempre no mesmo restaurante, um pequeno restaurante situado mesmo em frente do nosso hotel, o Pestana São Paulo, um excelente hotel no centro da cidade, perto da Avenida Paulista e dos museus de arte. Acabámos por conhecer diversas pessoas, entre as quais o nosso colega advogado brasileiro Dr. João Batista Lopes Júnior, que nos arranjou maneira de irmos à formosa cidade de Santos, sem dúvida a cidade brasileira mais bela a seguir ao Rio de Janeiro.
E assim, no dia seguinte, levantámo-nos às cinco e meia da manhã, saímos do hotel às sete, depois tomámos o metro até ao terminal de ónibus em Jabaquara e aí metemo-nos num autocarro para Santos, onde passámos um dia maravilhoso nas praias de São Vicente e onde também fizemos um city tour de duas horas por toda a cidade, incluindo o seu porto, que é o maior porto da América Latina. E este passeio custou-nos apenas cerca de sessenta reais (vinte euros), incluindo o almoço, o que é uma autêntica pechincha.
São Paulo foi a cidade onde encontrámos os preços mais baixos em todo o Brasil. Não pagámos mais de dez reais (três euros) pelas refeições que lá consumimos e comemos muitos pratos substanciais, incluindo a célebre feijoada à brasileira. Convém, no entanto, acrescentar que nas nossas idas ao estrangeiro nós só costumamos entrar nos restaurantes onde vemos gente humilde, pois é onde normalmente se come barato.
Com os seus preços convidativos, com a sua activa vida cultural e com a sua excelente oferta sexual, São Paulo é uma cidade que faz a felicidade de um homem culto e apreciador dos prazeres da vida. Como nos dizia um amigo brasileiro que conhecemos nesta cidade maravilhosa, um cara sai de São Paulo com as duas cabeças satisfeitas.

UM BORDEL NA CIDADE DE SÃO PAULO


Nas nossas deslocações ao estrangeiro, quando permanecemos vários dias numa cidade é nosso costume frequentarmos os mesmos sítios, por exemplo cafés e restaurantes, sempre que somos bem servidos aquando da primeira visita. É que a tendência é para sermos igualmente bem servidos nas vezes seguintes, devido ao facto de entretanto nos termos tornado cliente desses estabelecimentos.
E assim, após a chegada a São Paulo, vindo de Manaus, e após o transporte do aeroporto para a unidade hoteleira onde ficámos instalado e depois de tomarmos um duche reparador, já era um bocado tarde, cerca das 21 horas, na altura em que descemos no elevador para o átrio do hotel, de maneira que perguntámos na recepção onde podíamos encontrar um restaurante que nos servisse uma refeição leve.
Nem de propósito, quase em frente do Hotel Pestana São Paulo situa-se uma «lanchonete» e foi para aí que o porteiro do hotel nos encaminhou. Em boa hora o fez, pois a comida que lá se consome é excelente e barata, as pessoas são muito simpáticas e o ambiente é muito agradável. Passámos portanto a jantar todos os dias nessa «lanchonete» e no segundo dia em que lá fomos já falávamos com os outros clientes e com o dono da mesma.
Acontece que no terceiro dia da nossa estadia em São Paulo, quando nos dispúnhamos, após o jantar, a dar uma volta pela Avenida Brigadeiro Luís António e pela Avenida Paulista, o dono do restaurante, o André, veio ter connosco, a fim de nos avisar de que no dia seguinte, sexta-feira santa, o seu estabelecimento estaria fechado. Mas nós dissemos-lhe que não havia problema, pois no dia seguinte rumaríamos para o Rio de Janeiro.
Perguntou-nos então qual a terra onde residíamos em Portugal, pois a sogra dele era portuguesa, quais as cidades brasileiras que já tínhamos visitado, etc., etc., e nós falámos-lhe então detalhadamente da viagem que estávamos a fazer através da enorme nação brasileira, dos sítios onde já tínhamos estado, das nossas impressões sobre a comida, os hotéis, o clima e as mulheres; e claro também lhe referimos que já tínhamos tido excelentes experiências sexuais com moças brasileiras em Salvador (duas vezes) e na floresta da Amazónia.
Foi então que o nosso interlocutor nos disse que também deveríamos ter uma experiência semelhante em São Paulo, que além de ser a maior cidade brasileira e a terceira maior cidade do mundo era, segundo ele, a cidade brasileira com maior oferta sexual. Aliás, nós já tínhamos chegado a essa conclusão, pois o nosso guia turístico, aquando do nosso «city tour», já nos tinha mostrado a enorme zona das casas de strip tease, dos bares de engate e dos bordéis; no entanto, infelizmente, essa zona ficava muito longe do sítio onde estávamos.
Mas o dono do restaurante logo nos disse que isso não era motivo para uma nossa possível abstinência, pois havia um bordel a cerca de cem metros, na Rua Padre Manuel da Nóbrega. E logo acrescentou que se tratava de um bordel sério, honesto e seguro e ainda por cima bastante barato, com o preço de cinquenta reais, mais ou menos dezasseis euros, por um programa de uma hora.
Dado que era quase meia-noite, nós hesitámos, mas como o preço era convidativo e o dono do restaurante, o André, se dispôs a acompanhar-nos, lá nos decidimos a ir ao bordel paulista da Rua Padre Manuel da Nóbrega. O bordel não demorou a aparecer, pois situava-se realmente muito perto. Depois de entrarmos, o André apresentou-nos a gerente, que em seguida nos apresentou as meninas, apenas quatro, pois as restantes estavam a trabalhar.
Das meninas que a gerente nos apresentou nós só simpatizámos com uma delas, a Raquel, realmente uma moço loira muito bonita. E nesta conformidade, dissemos à gerente que escolhíamos a Raquel. Mas para nosso grande espanto, passados alguns instantes a Raquel veio dizer-nos que não estava a trabalhar. Mas nós ripostámos-lhe imediatamente: «como é possível, minha querida, que não estejas a trabalhar se ainda agora nos foste apresentada?»
Trata-se de um equívoco, disse-nos ela. Perante tal resposta, nós preparámo-nos para sair, mas quando já íamos perto da porta a Raquel veio ter outra vez connosco e disse-nos que afinal sempre estava a trabalhar. E acrescentou que estava disposta a alinhar se nós estivéssemos de acordo em ir com ela e também com uma amiga dela, a Júlia, que por sinal era uma loira igualmente bonita.
Mas nós receámos que esse programa, um «menu à trois», fosse muito caro e perguntámos às duas qual o preço que teríamos que pagar. E o preço que nos foi pedido foi de quarenta reais, ainda mais barato do que o preço que o dono do restaurante nos tinha referido. Escusado será dizer que passámos uma noite maravilhosa, com as duas meninas a alternarem-se nos carinhos e a acariciarem-se também uma à outra.
Claro que as moças eram meias lésbicas, mas proporcionaram-nos uns momentos tão agradáveis e a relação sexual propriamente dita que tivemos com as duas foi tão excitante que o mínimo que podemos dizer é que elas também gostaram muito de nós. E foi assim que num bordel em São Paulo, na companhia de duas loiras cintilantes, passámos uma noite de oiro. Pelos vistos, no Brasil não é só nas igrejas com altares de talha doirada que há curtições doiradas.

UM BORDEL DE LUXO NO RIO DE JANEIRO

O Rio de Janeiro é considerada a mais bela cidade do mundo e por isso quando desembarcámos no seu aeroporto só pensávamos em fruir os seus sítios turisticamente mais badalados. E assim, logo à chegada ao hotel onde nos hospedámos, situado em Copacabana, ficámos logo encantados com a Avenida Atlântica, com os excelentes prédios que a emolduram e com a maravilhosa praia, num conjunto de uma amplidão e de uma largueza de vistas que só alguns morros aqui e além interrompem, erguendo os seus túrgidos seios para o céu.
E depois de jantarmos numa esplanada quase em frente do nosso hotel, andámos a passear à beira-mar, sorvendo o ar marítimo e observando, deliciado, o ondulado desenho do passeio, da autoria do célebre arquitecto paisagista brasileiro Burle Marx. O primeiro dia foi muito bom, pois Copacabana é um autêntico paraíso, mas o segundo dia ainda foi melhor, pois andámos em visita guiada por quase toda a cidade do Rio de Janeiro, detendo-nos algum tempo nos seus lugares mais conhecidos, tais como o Pão de Açúcar, o Cristo Redentor do Morro do Corcovado, o Sambódromo, o Estádio de Maracanhã e a Catedral do Rio de Janeiro.
E andámos por todos estes sítios sempre com os olhos arregalados, pois a cidade do Rio é encantadora em todo o seu enorme perímetro citadino, inclusivamente nas suas ruas mais antigas, como é o caso da Rua do Ouvidor, por onde tivemos que passar, vindos da Praça Cinelândia e da Avenida Rio Branco, a caminho da mais antiga biblioteca da cidade, o Real Gabinete Português de Leitura, situado numa rua, a Rua Camões, que cheira intensamente a Portugal.
Com todas estas voltas e reviravoltas nos primeiros dois dias e ainda com a visita à cidade de Petrópolis e às ilhas tropicais nos dois dias seguintes e também com algumas incursões à praia de Copacabana, nós não pensávamos nessa altura em ir a uma casa de sexo, embora nos nossos passeios pela cidade maravilhosa nos tivéssemos cruzado com algumas garotas aparentemente fáceis de abordar, garotas de programa, como dizem os brasileiros.
Mas precisamente na nossa viagem às ilhas tropicais, o nosso guia falou-nos de três casas requintadas, estilo bordéis de luxo, onde as garotas eram escolhidas a dedo e eram portanto todas lindíssimas, garotas de calendário, acrescentamos nós, que é a expressão com que no Brasil se designam as garotas mais giras. Era como se todas essas moças entrassem nesses templos do amor através de rigorosíssimos concursos de beleza.
Dessas três luxuosas mansões do amor, duas, o Centaurus e o Solarium, ficavam muito longe do nosso hotel, pelo que pusemos logo de parte a hipótese de as visitarmos, mas uma delas, o Monte Carlo, ficava a cerca de seiscentos metros, numa das ruas transversais da Avenida Atlântica. Claro que não resistimos a visitar uma dessas casas; e assim, no penúltimo dia da nossa estadia no Rio de Janeiro, num fim de tarde quente, húmido e tropical, dirigimo-nos para a Rua Hilário de Gouveia, onde se situa o Monte Carlo.
Quando chegámos à porta da entrada, os seguranças disseram-nos que nos devíamos dirigir ao primeiro andar. Aí, duas jovens e amáveis recepcionistas, informaram-nos sobre o preço que teríamos que pagar, duzentos reais, um preço realmente exorbitante em termos brasileiros, e informaram-nos ainda que teríamos que nos despir, deixar a nossa roupa guardada num cacifo e depois vestir um roupão, fornecido pela casa, numa sala ao lado.
Embora tivéssemos achado tudo isso um bocado estranho, lá nos despimos e lá enfiámos o roupão e em seguida fomos para um salão enorme, uma espécie de cabaret, com bar, com mesas e cadeiras e com música ambiente, onde cerca de cinquenta moças em biquini aguardavam os clientes.
Havia muitos homens no enorme salão, dos quais uns procuravam engatar uma garota, outros namoriscavam com um par ocasional nos bancos do bar ou nas mesas, outros bebericavam, outros dançavam na pista de dança; e era um espectáculo estranho e insólito, pois todos envergavam um roupão, tal como nós aliás também envergávamos, de maneira que não havia distinções no traje, nem distinções de classe, éramos todos iguais na busca do prazer como, em princípio, somos todos iguais perante Deus.
Claro que a maior parte das moças que cirandavam à nossa volta era irrecusável e uma era mesmo tão bela que até nos doeram os olhos quando a contemplámos pela primeira vez. Foi precisamente essa que abordámos e foi com ela que fomos para uma suite de luxo.
E a moça era tão ingénua, tão verde, tão terna, tão carinhosa e ao mesmo tempo tão perversa, tão sedutora e tão sabedora das mil artimanhas do amor que tivemos a sensação de que estávamos a possuir uma deusa grega de fino mármore ou então uma dessas Vénus de Giorgione ou de Ticiano de que gostamos tanto. E foi assim que nós no Rio de Janeiro, cujos museus de belas artes não valem nada, encontrámos a arte suprema, na figura de uma jovem prostituta carioca, num bordel de luxo em Copacabana.


TURISMO E PRAZER NA NOVA CHINA

Quando decidimos visitar a China nós não pensávamos em ter relações sexuais durante a nossa visita. É que a China de Mao Tsé-Tung, da revolução cultural e do massacre de Tiananmen não nos parecia um país compatível com a liberdade sexual que é uma característica fundamental dos países livres do mundo.
Mas essa China rígida, fechada, severa e ditatorial que levávamos na cabeça já não existe. A China que nós visitámos é uma nação que abandonou há alguns anos o modelo falhado e ancilosado do marxismo, na sua versão maoista, e que caminha, embora lentamente, para a democracia. Hoje os chineses mais ricos podem comprar carros e andares de luxo, podem optar por universidades e por hospitais privados e podem deslocar-se livremente no país ou saírem para o estrangeiro.
Quanto ao mundo do trabalho, a máxima marxista de salário igual para trabalho igual já não se aplica na China. Os trabalhadores são remunerados segundo as suas qualificações. Um bom executivo pode ganhar muitas vezes mais do que um trabalhador normal. Isto quer dizer que os altos salários e a ostentação da riqueza já não são sinais negativos, importados do imperialismo e do capitalismo, pois a China assume-se hoje como um país de economia de mercado.
É certo que o mausoléu de Mao Tsé-Tung ainda ocupa um lugar destacado na Praça Tiananmen e continua inclusivamente a ser visitado por milhares de pessoas. É certo também que a maior parte do dinheiro em papel que circula na China traz a efígie do fundador da república popular. Mas isto é apenas folclore. A China hoje nada tem a ver com a China de um passado recente.
As suas grandes cidades, como é o caso de Pequim e de Cantão, lembram, respectivamente, Los Angeles e Nova Iorque. Quanto a Changai, lembra Nova Iorque e tem mesmo ruas na sua «down town» que são um festival de luz à noite e que portanto evocam instintivamente a Broadway. Mas quando penetramos no bairro antigo de Changai temos a sensação de recuar no tempo e de chegar à Changai dos filmes antigos passados na grande metrópole chinesa.
É como se de repente saíssemos da grande cidade do presente e transpuséssemos os umbrais do Oriente mais profundo. Com as suas ruas estreitas, com os seus prédios de cornijas salientes polvilhando as ruas com os seus tons vermelhos e acastanhados, e com um jardim tipicamente chinês no seu interior, o bairro antigo de Changai é muito belo porque é totalmente oriental.
Mas regressemos a Pequim. Foi aí, no segundo dia da nossa estadia na China, que nós tivemos a primeira experiência da China moderna. Durante a manhã visitámos um dos maiores, dos mais belos e dos mais perfeitos complexos urbanísticos do mundo, a chamada «Cidade proibida», hoje transformada em museu; e também percorremos o imponente e monumental espaço da Praça Tiananmen, a maior praça do mundo. Durante a tarde, passeámos a pé e de barco pelas áleas frondosas e pelo refrescante lago do Palácio de Verão dos imperadores de antanho.
À noite saímos do hotel, jantámos e demos uma volta pela larga e monumental avenida onde se situa o hotel. A certa altura ouvimos gritar «Sir, Sir, Sir», voltámo-nos e era efectivamente connosco que duas jovens chinesas queriam falar. As duas jovens eram prostitutas e queriam fazer amor connosco, mas nós não sabíamos «where e how much».
Quanto ao preço, acabámos por chegar a acordo. Quanto ao lugar, a chinesa que foi afinal connosco perguntou-nos qual o hotel em que estávamos hospedados; e como o hotel era ali muito perto, disse-nos logo que era no nosso hotel que iríamos fazer amor. «No problem», disse-nos ela. E realmente não houve problema nenhum: a garota foi connosco, atravessámos a zona da recepção, entrámos juntos no elevador e chegámos finalmente ao nosso apartamento. Depois seguiu-se a tal noite oriental que nós ansiávamos saborear há muitos anos.
Em Changai voltou-nos a apetecer estar com uma garota, mas aí o nosso apetite já era mais sofisticado, pois tínhamos alinhado entretanto em duas excelentes sessões de massagens não sexuais. E convém desde já esclarecer os leitores que a massagem não sexual, embora não termine em cópula, pode ser tão estimulante como a massagem sexual. Isso depende obviamente da menina que faz a massagem e da pessoa que é massajada.
Em Changai apeteceu-nos portanto uma sessão que incluísse a massagem sexual e a cópula. E assim, depois de cearmos, saímos do hotel à noite à espera de encontrarmos uma garota na rua que pudéssemos abordar, como tinha acontecido em Pequim. Mas o hotel de Changai não ficava no centro da cidade e na rua em frente do hotel não se via quase ninguém.
Mas de repente apareceu-nos um sujeito chinês, daqueles que angariam turistas para o sexo perto da entrada dos hotéis, que nos perguntou se nós estávamos interessados em «sexual massages and fuck». Ora, nem de propósito, era isso mesmo que procurávamos. Nós então perguntámos-lhe se era longe o lugar das massagens. Disse-nos que esse lugar era uma «big house, very near», mas que tínhamos que tomar um táxi.
Lá chamámos um táxi e realmente passado pouco tempo estávamos num grande edifício com meninas à porta e com muito bom aspecto. E foi uma coisa realmente maravilhosa. É que a moça que escolhemos era realmente muito jovem e muito bonita e embora não percebesse uma palavra de inglês e nós só soubéssemos duas palavras em chinês, a verdade é que travámos um diálogo intenso, com muito linguado à mistura.
A seguir a Changai visitámos Guilin, Cantão e Hong Kong. Mas em Cantão só estivemos umas horas e já sabíamos que o sexo em Hong Kong era muito caro. Foi portanto em Guilin que tivemos o último encontro amoroso na China. Guilin é uma cidade pequena, com seiscentos mil habitantes, mas é uma cidade muito simpática e muito bonita. Tem um rio maravilhoso, o Rio Li, e tem colinas lindíssimas a pontuarem a paisagem.
É a cidade verde da China, pois as colinas que a rodeiam são todas verdejantes. É um paraíso para os ambientalistas e também para os turistas, pois as pessoas são muito amáveis e o passeio no Rio Li é um passeio fabuloso. E quanto a sexo, também Guilin é uma cidade amorosa. A menina chinesa que nos calhou na nossa última noite de amor na China era tão doce, tão fresca e tão harmoniosa como a cidade de Guilin.
O seu corpo tinha o mesmo cheiro que as verdejantes colinas de Guilin e o seu suor tinha o mesmo sabor que as águas do Rio Li. Em Guilin, uma cidade feita para agradar aos turistas, encontrámos uma moça que parecia criada e educada para nos agradar a nós. E é esta a China onde fizemos turismo e onde fizemos amor e onde nos sentimos extraordinariamente felizes, a nova China das mil e uma noites e das mil e uma liberdades.
Viseu, 2 de Agosto de 2004

TURISMO SEXUAL NO SUDESTE ASIÁTICO

O nosso avião aterrou no aeroporto de Saigão relativamente tarde, seriam umas oito da noite, já não nos lembramos bem. Mas só chegámos ao hotel onde ficámos instalados, o «Saigon New World Hotel», às dez horas, porque ficámos retidos no aeroporto mais de uma hora, dado que não levávamos o visto de entrada no Vietname.
Estávamos de tal maneira stressados com a viagem de avião, com a demora na resolução dos problemas relacionados com o visto e também com o «transfer» do aeroporto para o hotel que resolvemos dar uma volta, a fim de descontrair e de apalpar o pulso à cidade. Havia muito pouca gente na rua, pois entretanto já eram onze da noite quando saímos do hotel.
A rua por onde deambulámos situa-se mesmo no centro de Saigão, mas nós ainda não sabíamos, pois não conhecíamos a cidade. Claro que não pensávamos encontrar nenhuma garota de engate, pois o Vietname é uma república comunista e a guia local, a Tam, tinha-nos dito que em Saigão não havia prostituição.
A realidade, porém, encarregar-se-ia de desmentir a afirmação da guia e o ambiente de rígida moralidade sexual normalmente associado aos regimes comunistas. Com efeito, ainda não tínhamos andado mais de duzentos metros quando vimos um indivíduo de motorizada aproximar-se de nós, subir o passeio e convidar-nos, em inglês, para irmos a uma casa de «massages and fuck».
«Bum, bum! Fuck, fuck?» insistia ele, enquanto batia com a palma da mão contra o lado direito do punho esquerdo. Mas nós não gostámos da cara do angariador de clientes para as massagens sexuais e para o coito e dissemos-lhe redondamente que não. Continuámos o nosso passeio e não foi preciso caminhar muitos metros para nos aparecerem um rapaz e uma rapariga, que não teriam mais de catorze, quinze anos, cada um em sua motorizada.
Também galgaram o passeio e também nos convidaram a ir com eles. O jovem e a jovem até eram muito simpáticos e a nós até nos apeteceu ir com os moços e fazer amor com a garota, que era realmente uma moça vietnamita muito bonita.
Mas a verdade é que já tínhamos tido duas relações sexuais demoradas, impecáveis e bem conseguidas, no espaço de apenas quatro dias, nas duas cidades que anteriormente tínhamos visitado, e tivemos inclusivamente medo de não estarmos à altura das circunstâncias, pois embora estejamos em boa forma, já temos sessenta e seis anos de idade.
Com efeito, quando chegámos a Bangkok, que foi a primeira etapa da nossa longa viagem pelo sudeste asiático, perguntámos logo ao guia local qual o sítio melhor para um programa completo de massagens tailandesas. E ele, que se chamava Bom e que era realmente um bom guia, logo se apressou a chamar um táxi e acompanhou-nos a uma casa de massagens por ele escolhida.
Era uma casa de massagens enorme, com uma ampla sala de entrada, onde os clientes se sentavam e onde podiam apreciar, através de um vidro, cerca de trinta garotas sentadas numa bancada descomunal. O preço não era tão barato como nós julgávamos, mas as garotas eram bonitas; e nós lá nos resolvemos a escolher uma, que além de bonita, tinha um sorriso tailandês irresistível e era muito simpática.
O nosso programa de massagens sexuais foi um programa de cerca de duas horas e incluiu massagens as mais variadas possíveis, com as mãos, com as mamas e também com o corpo todo, primeiro numa banheira, depois em cima de uma lona e finalmente numa cama, com abraços, beijos, linguado, mais outras massagens e com o «bum, bum, fuck, fuck» para terminar.
No dia seguinte, voámos para Siem Reap, no norte do Cambodja, com a finalidade de visitarmos a antiga capital do país, Angkor, mudada há quinhentos anos para Phnom Penh, devido a invasões, e gradualmente abandonada, com os seus palácios e com os seus templos em ruínas a serem devorados por uma selva luxuriante implacável.
À noite, o guia local veio buscar-nos ao hotel onde ficámos instalados, o Hotel Pansea Angkor, e levou-nos na sua motorizada para Siem Reap, que fica a uns três quilómetros de distância do hotel. Siem Reap é a cidade que serve de apoio a Angkor e por isso mesmo aposta fortemente no turismo.
Não obstante ter actualmente apenas sessenta mil habitantes, a verdade é que já tem cinco hotéis de cinco estrelas, muitos cafés e muitos restaurantes, um razoável aeroporto e várias casas de massagens, uma das quais ainda é maior do que a casa que visitámos em Bangkok.
Mal entrámos na casa de massagens, deparámos com cerca de quarenta miúdas, sentadas numa bancada, todas com um número atribuído, como nos concursos de beleza, de maneira que nós podíamos escolher «the girl number seven or the girl number thirty» ou uma garota com outro número qualquer. A escolha não era fácil, pois havia muitas miúdas giríssimas, mas nós finalmente optámos pela «girl number five», uma miúda cambodjana realmente «very nice and very pretty».
O programa foi de duas horas, tal como em Bangkok, mas foi todo executado na cama, com massagens manuais, lambidelas, apalpões, beijos na boca, linguado e finalmente o «bum, bum, fuck, fuck». A miúda chamava-se Lina e nós ainda hoje conservamos na boca o sabor do seu corpo jovem de adolescente em flor.
Como dizíamos no princípio deste texto, devido a estas duas relações amorosas num curto espaço de quatro dias, quando chegámos a Saigão íamos completamente secos e por isso resolvemos fazer amor apenas no quarto dia da nossa estadia no Vietname. Foram muitas as pessoas, entre garotas, angariadores e chulos, que nos propuseram programas sexuais nas nossas deambulações nocturnas por essa cidade do pecado tão estimulante como é na realidade Saigão, que nesse aspecto não deve ser muito diferente da Saigão do tempo da guerra do Vietname, mas nós já tínhamos tomado a nossa decisão.
Já tínhamos decidido com quem íamos, pois simpatizámos logo à primeira vista com um jovem condutor de riquexó que desde o primeiro dia ia ter connosco ao restaurante barato onde costumávamos jantar para nos propor um programa sexual com uma garota muito linda e muito jovem. Nós dissemos-lhe várias vezes que só alinharíamos no último dia da nossa estadia.
E assim foi. Na nossa última noite em Saigão, tal como tínhamos combinado, fomos no riquexó com o moço em busca da miúda, que vinha noutro riquexó ao nosso encontro e que logo saltou para o nosso riquexó e se sentou ao nosso colo. A miúda era realmente muito jovem e muito linda e agradou-nos muito.
O moço parou o riquexó à porta de um hotel de engates e nós lá fomos para o quarto, onde passámos uma noite maravilhosa, com muito sexo e com muito amor. E a miúda vietnamita era realmente muito ingénua, muito criança e muito simpática. No dia seguinte, quando saímos do hotel para o aeroporto de Saigão, rumo a Singapura, só nos lembrávamos desta moça, da sua beleza, da sua delicadeza, da sua cortesia, desta moça cujo nome não sabemos, mas não importa, porque ela simboliza para nós esta nação e esta cidade que nós amamos muito.
Viseu, 14 de Novembro de 2004

ENCONTROS AMOROSOS
NA CIDADE DO MÉXICO
E NA CIDADE DE HAVANA

Depois de um curto voo entre o Porto e Madrid e de um longo e demorado voo entre a cidade de Madrid e a cidade do México, em dois aviões da Ibéria, lá desembarcámos no aeroporto da maior cidade do mundo. Íamos à procura das raízes pré-colombianas da civilização mexicana e íamos também à procura de garotas mexicanas, numa associação entre a cultura e o sexo, que nós procuramos cultivar em todas as nossas viagens através do mundo inteiro.
Após muitas vicissitudes, que incluíram uma conversa com o nosso guia local, um motorista de táxi por ele arranjado e ainda uma complicada viagem para conseguir encontrar uma casa de meninas não muito longe da Zona Rosa, o bairro do nosso hotel, situado no centro da cidade, conseguimos enfim deparar com uma casa de sexo e lá fomos com uma garota mexicana para o quarto.
Mas a garota, que era alta, magra, elegante e bonita e que portanto correspondia em pleno ao tipo de garota de que nós gostamos, dificultou ao máximo a nossa relação. Primeiro começou por nos dizer que o tempo por ela gasto a despir-se, a embelezar-se e a tratar da higiene prévia ao acto sexual também contava para a meia hora previamente combinada. No entanto, depois ainda foi pior, pois a miúda, que até parecia lésbica, não queria que lhe tocássemos.
Mas a essa exigência, estranha e descabida, nós logo lhe ripostámos, em bom português, que nesse aspecto linguístico é igual ao espanhol, “mas querida, como é que queres que eu te coma sem te tocar”
. E para evitar mais problemas, logo a ameaçámos de a obrigar a restituir-nos o dinheiro previamente pago (quinhentos pesos), se daí em diante não colaborasse minimamente connosco.
Enfim, a partir desse momento a jovem prostituta melhorou bastante a sua prestação sexual, embora continuasse a murmurar, mas agora apenas entre dentes: “não me toques, não me toques, não me toques”. Enfim, a relação acabou por ser saborosa, mas a verdade é que custou muito caro, custou setecentos pesos, dos quais duzentos pesos foram pagos ao motorista de táxi.
Depois de uma semana no México, voámos para Cuba, onde passámos três dias em Havana e sete dias numa praia de Varadero, que fica a 145 quilómetros da capital de Cuba. Contrariamente ao que nos tinha acontecido no México, em Cuba correu tudo muito bem no que respeita ao aspecto sexual. E também correu tudo muito bem no que respeita ao trabalho para o bronze, pois bastaram os sete dias que passámos na praia do Hotel Meliá Varadero para ficarmos com um bronzeado sensacional.
Quanto ao sexo propriamente dito, podemos desde já dizer que em Havana pusemos à prova a nossa virilidade com inteiro êxito, pois batemos todos os recordes no que respeita às nossas performances sexuais. Com efeito, tivemos três relações sexuais em três dias, sem nenhuma nega nem nenhum falhanço, numa prova cabal de que ainda estamos em plena forma.
Mas as garotas eram todas muito giras e eram todas muito simpáticas e isso tem muita importância. Para ser um Casanova e um super-macho, não basta beber muitos ovos crus por dia. E nós em Havana, apesar de termos comido apenas alguns ovos escalfados ao pequeno-almoço, fomos um Casanova e um super-macho, como passamos em seguida a contar.
E assim, logo no dia da nossa chegada a Havana, perguntámos ao porteiro do Hotel Tryp Habana Libre, onde ficámos hospedado, qual o sítio mais conveniente da cidade para ir nessa primeira noite da nossa estadia na capital de Cuba. E o porteiro logo nos disse que o melhor sítio era o Malecon, a marginal junto à baía de Havana, pois era aí que tinham lugar as mais animadas festividades do Carnaval cubano, que tinha o seu início nesse mesmo dia.
Nós ficámos bastante surpreendidos, uma vez que o Carnaval em Portugal já tinha sido celebrado há cerca de um mês, mas o porteiro explicou-nos que o Carnaval cubano era diferente, pois em Cuba o Carnaval não dependia da Páscoa, já que em Cuba nem sequer se comemorava a Páscoa. E assim, agradavelmente surpreendidos com este Carnaval fora do tempo, lá fomos para a baía de Havana.
Mas como ainda não tínhamos jantado, parámos, como é nosso costume, em frente a um restaurante barato, que tinha um enorme letreiro com a ementa logo à entrada. Escolhemos rapidamente um dos pratos do nosso agrado, o “pollo a la plancha” (frango grelhado) e perguntámos a uma moça cubana mulata, que nós julgávamos ser uma empregada do restaurante, quais eram os acompanhamentos do prato que tínhamos escolhido, ao que ela nos ripostou perguntando-nos de imediato: “que acompanhamentos, queres que te acompanhe?”, ao que nós respondemos que essa hipótese sem dúvida nos agradaria, mas que primeiro queríamos comer o frango.
A verdade é que quando saímos, depois de bem jantado, ela ainda estava à porta do restaurante, obviamente à nossa espera, e nessa altura foi a nossa vez de irmos com a moça e de nos servirmos do último acompanhamento, o acompanhamento feminino do “pollo a la plancha”. E tudo terminou numa hora e meia de amor em que valeu tudo, incluindo longos e salivados beijos na boca, com sabor, da nossa parte, ao prato do nosso jantar: o “pollo a la plancha”.
No segundo dia da nossa estadia em Havana, depois do city tour e de um passeio pelas ruas à volta do hotel, jantámos no mesmo sítio da véspera e fomos outra vez ao Malecon, desta vez para ver o desfile do Carnaval cubano, que tinha lugar nesse dia. Mas assim que chegámos ao Malecon, apareceu-nos uma negra cubana muito bonita e muito simpática, a Julianela, com quem fomos de imediato tomar uns drinks e com quem fomos a seguir para um quarto alugado.
E foi assim por esta razão muito forte que não chegámos a ver o desfile de Carnaval, mas a verdade é que o Carnaval que celebrámos com a garota na cama foi ainda mais autêntico do que o Carnaval da rua, pois a palavra Carnaval está ligada, na sua etimologia, ao pecado da carne (carnevale, carne levare). E nós praticámos esse pecado muitas vezes nessa noite, em que valeu tudo, mesmo tudo, menos tirar olhos.
No terceiro dia da nossa estadia na capital de Cuba, fomos pela última vez à marginal da baía de Havana, ao Malecon, onde as garotas abundam e portanto nesse lugar Havana é muito mais bela. E nesta conformidade, logo que chegámos ao Malecon, encontrámos dois jovens, mas desta vez do sexo masculino, que nos cumprimentaram, que nos falaram e que nos disseram que conheciam várias miúdas, que nos podiam apresentar.
Mas nós apressámo-nos a dizer-lhes que tínhamos tido duas relações nos dois dias anteriores e que portanto só se fosse uma garota muito especial é que estávamos dispostos a alinhar, pois só assim a relação poderia resultar. E realmente eles apresentaram-nos uma rapariga mulata de pele castanha clara, muito nova, muito inocente e muito bela, realmente uma garota de encher o olho e de levantar o sexo mesmo a um gajo morto há muitos dias, de maneira que nós lá fomos com ela e ela chamava-se Diana e nós estivemos mais de uma hora com ela, com a princesa cubana Diana, enfim foi o coroar com chave de ouro do ciclo das nossas conquistas amorosas em Havana.
Foi realmente uma noite inolvidável, que incluiu beijos e linguado com o sabor a água de rosas da perfumada boca de uma adolescente cubana em flor, enfim foi a cereja em cima do bolo, enfim em Havana tinham-nos dito na agência de viagens que o melhor sítio da cidade era La Habana Vieja, que até é património da humanidade, mas nós pensamos que o melhor sítio em Havana é o Malecon, com as suas garotas sempre disponíveis, e que portanto o Malecon é que, em nossa opinião, devia ser considerado património da humanidade.
Viseu, 18 de Março de 2005

UM CITY TOUR, UM GUIA E O SEU IRMÃO
E UM ENCONTRO AMOROSO
COM UMA GAROTA NEGRA EM DAKAR

Aproveitámos o fim-de-semana prolongado da Páscoa para visitar Dakar, capital do Senegal, indo pela primeira vez a um continente onde nunca tínhamos estado. Mas não foi uma primeira escolha. Fomos a Dakar pela simples razão de que não conseguimos ir para todos os outros destinos, na Europa e no norte de África, que igualmente tentámos. A época da Páscoa é realmente uma época em que toda a gente viaja e é, portanto, uma época muito má para quem, como nós, decidiu à última hora sair de Portugal.
O voo entre Lisboa e Dakar foi efectuado a horas tardias, já de madrugada, e ainda por cima saímos do aeroporto da Portela com uma hora de atraso. Em consequência de tudo isto, quando chegámos ao aeroporto de Dakar já eram cinco horas. Acabámos por nos deitar às sete horas da manhã, mas às nove horas já estávamos acordados, com a ajuda do eficiente serviço de despertar do hotel onde ficámos alojados.
Depois de um refrescante banho de chuveiro e de um substancial pequeno-almoço, saímos para dar um passeio nas imediações do hotel, com a intenção de tomar o pulso à cidade onde há pouco tempo tínhamos arribado. Fomos por uma rua muito cheia, muito barulhenta, muito comprida e muito degradada, no fim da qual se situa um dos lugares mais conhecidos de Dakar, a carismática Praça da Independência.
Tivemos que caminhar quase sempre pelo meio da rua, a desviarmo-nos dos automóveis e os automóveis a desviarem-se de nós, pois pelos passeios, cheios de vendedores ambulantes e de carros estacionados, era impossível circular. Mas, enfim, lá chegámos à Praça da Independência. A Praça da Independência não é bem uma praça, mais parece uma avenida, por sinal muito larga, mas chama-se efectivamente Praça da Independência.
Aliás nós só soubemos que se chamava Praça da Independência muitas horas depois, quando na parte da tarde fizemos o city tour de Dakar. Foi nessa altura que entrou o Abdu, o nosso guia em Dakar. E desde já informamos os nossos leitores que o Abdu, além de guia, é também chulo; e que, além de guia e de chulo, é também mentiroso e desonesto.
Chegámos a todas estas conclusões depois dele nos apresentar uma preta muito nova e muito bonita, a Auá. Mas não apressemos as coisas. Primeiro começámos por pedir um guia na recepção do nosso hotel e o Abdu foi o guia que o hotel nos apresentou. Foi uma péssima escolha, pois o Abdu, para além das suas insuficiências culturais, fez connosco o city tour quase todo a caminhar. E assim tivemos que percorrer grande parte de uma cidade de dois milhões de habitantes sempre a dar às pernas, somente tendo utilizado o serviço de um táxi num curto trajecto urbano.
Claro que quando chegámos ao fim do city tour estávamos estoirados e cheios de sede e por isso foi com grande prazer que aceitámos o convite do Abdu para bebermos uns refrescos, que nós, aliás, tivemos que pagar. E foi aqui, na mesa da esplanada ao ar livre onde tomámos umas bebidas, que apareceu um irmão do Abdu, o qual nos disse que o Abdu tinha ainda mais irmãos, nem sabia ao certo quantos, pois o pai deles tinha diversas mulheres, situação que parece que é normal em África.
O city tour já tinha terminado e a nós estava-nos a apetecer ter relações sexuais com uma moça senegalesa negra, pois as bebidas que entretanto tínhamos tomado tiveram o condão de nos restituírem as energias desbaratadas no «pedibus calcantibus» do city tour. Falámos dessa pretensão ao Abdu e ao irmão, que imediatamente nos disseram que nos arranjariam uma garota muito especial, uma estudante, não propriamente das primeiras letras, mas ainda assim muito novinha e muito inocente.
E logo acrescentaram que a miúda não era uma profissional e que portanto nos ia custar um pouco mais caro do que uma prostituta normal. E o preço que nos propuseram foi realmente um preço muito caro, foi um preço de fazer perder o apetite sexual mesmo ao indivíduo mais carente, o que não era obviamente o nosso caso. Para fazermos amor com a tal garota especial teríamos que desembolsar cem euros, nem mais nem menos.
Claro que nós respondemos-lhes que não estávamos interessados em pagar um preço tão exorbitante e propusemos o pagamento de cinquenta euros, chegando depois de uma longa e enfadonha negociação ao preço final de sessenta euros. Depois do jantar, o Abdu e o irmão vieram ter connosco ao hotel e lá fomos os três buscar a miúda a um bar situado na Praça da Independência.
A miúda, que era realmente muito nova e muito bonita, começou logo com exigências. E assim tivemos em primeiro lugar que lhe pagar umas bebidas no bar. E a miúda ainda nos exigiu que a levássemos de táxi para o hotel e ainda por cima o táxi levou um preço exagerado (oito euros) por uma viagem curta de apenas um quilómetro. É evidente que o Abdu, o irmão, o taxista e a miúda estavam todos combinados para nos explorar e o coito estava-nos a sair cada vez mais caro.
Enfim, depois destas vicissitudes todas, entrámos com a miúda no hotel e seguimos para o elevador e depois para o nosso quarto, sem qualquer problema, pois o hotel, como nos tinha explicado o guia, permitia que os seus hóspedes levassem acompanhantes para os seus aposentos. A miúda despiu-se, era realmente uma garota preta muito jovem e muito atraente, deitou-se connosco na cama e deixou-nos fazer tudo o que nós lhe propusemos, mesmo aquilo que algumas garotas não gostam de fazer.
Mas passou uma grande parte do tempo a atazanar-nos os ouvidos com um veemente e insistente pedido. O objectivo desse pedido era que em vez de sessenta euros lhe pagássemos cem euros. Nós respondemo-lhe que o preço tinha sido combinado com o guia e com o irmão do guia e que ela própria tinha dado o seu assentimento ao pagamento de sessenta euros. Mas ela continuava a falar dos cem euros e insistia, insistia e insistia.
Como nós não gostamos de conversas sobre contratos, sobre preços e sobre dinheiro quando estamos a fazer amor, ameaçámo-la imediatamente de a pôr na rua se nos voltasse a falar de todos essas matérias que se prendem com o vil metal. E foi remédio santo. A partir daí a miúda tornou-se mais doce, mais meiga e mais submissa e nós pudemos enfim acabar em beleza o nosso primeiro encontro amoroso no continente africano.
Viseu, 25 de Abril de 2005


TURISMO SEXUAL NO ORIENTE

Na viagem ao oriente que empreendemos em Outubro e Novembro de 2006 nós já sabíamos que iríamos encontrar muitas daquelas garotas que fazem amor sem ser preciso um sujeito preencher uns papéis e casar-se com elas numa cerimónia solene com testemunhas e convidados. Com efeito, já era a quinta vez que íamos ao oriente, já conhecíamos alguns lugares e já sabíamos que nos lugares que conhecíamos iria tudo correr bem e que nos lugares que não conhecíamos não iríamos morrer à fome do ponto de vista sexual. O que era preciso era obter uma informação prévia em relação aos lugares que não conhecíamos, no que concerne ao turismo sexual.
E assim, logo que embarcámos no Aeroporto Sá Carneiro, na cidade do Porto, rumo ao oriente, começámos logo a planificar a nossa viagem do ponto de vista sexual. Já levávamos os planos dos voos, dos aeroportos, dos transfers, dos hotéis e dos city tours. Só faltava planificar os encontros com as garotas orientais. Nós íamos para a Tailândia, para o Vietname, para Macau, para as Filipinas e para a Indonésia e já sabíamos que com maior ou menor dificuldade iríamos engatar garotas em todos esses lugares.
Neste roteiro de vários países e duma região administrativa especial, já conhecíamos a Tailândia, o Vietname e a Indonésia, só Macau e as Filipinas eram desconhecidos para nós. O nosso plano era rentabilizar ao máximo a viagem do ponto de vista sexual, engatando garotas em todos os lugares do nosso percurso.
Nós somos um viajante cuidadoso e não gostamos que nos aconteçam percalços nos voos, nos hotéis, nos transfers e também nos programas com as garotas. Nesta viagem, lamentavelmente, tivemos um percalço no voo Macau-Manila, devido a um erro na marcação do voo por parte da agência de viagens. Mas não tivemos nenhum percalço nos voos do amor.
E assim, na primeira cidade da nossa viagem, na cidade de Patong, na ilha de Phuket, na Tailândia, que visitámos pela terceira vez, já sabíamos que a Casa de Massagens Christine era o melhor sítio para nos divertirmos durante mais de uma hora com garotas tailandesas muito belas e muito simpáticas.
São programas de massagens que têm lugar em banheiras enormes e que incluem massagens com as mãos, com as mamas, com a língua e com o corpo todo. Depois a garota toma um banho de imersão connosco, ensaboa-nos e seca-nos o corpo. Estamos enfim preparados para ir com a garota para a cama, onde tem lugar a relação sexual propriamente dita.
Na Casa de Massagens Cristine é tudo muito bem planificado, não há pressa, as garotas são muito simpáticas e o preço não é demasiado caro. As garotas parecem muito felizes por estarem connosco e nós ficamos igualmente muito felizes por estar com elas. Com efeito, não é muito difícil um homem ser feliz. Nós às vezes é que complicamos as coisas, assinando uns papéis e metendo uma cerimónia de casamento pelo meio. Claro que uma coisa destas, com papéis e cerimónia, não leva ninguém à felicidade.
De Phuket, na Tailândia, voámos para Hanói, no Vietname, onde ficámos no Hotel Fortuna, que é um dos melhores hotéis da capital do Vietname. Assim que chegámos ao hotel, apercebemo-nos de que as ruas à volta do hotel eram sujas e tinham os pavimentos degradados e portanto nem sequer pusemos a hipótese de engatar uma garota nas imediações do hotel. Teríamos que indagar junto do guia quais as hipóteses de ele nos arranjar uma garota ou então teríamos que nos abster de sexo em Hanói. Mas não aconteceu uma coisa nem outra.
Por volta das nove horas da noite, depois de um retemperador banho de chuveiro, dirigimo-nos ao restaurante do loby do hotel para jantar. E logo começámos a ouvir uma música, que nos parecia música ao vivo, mas não se via a origem dessa música. Após a refeição, informámo-nos na recepção do hotel sobre a origem dos sons musicais. E um solícito recepcionista logo nos disse que havia um dancing ali muito perto, na cave do loby do hotel.
Descemos umas escadas e entrámos no dancing. Mal entrámos no dancing, fomos logo rodeados por dezenas de garotas que queriam ir connosco para uma mesa. Mas nós não nos precipitámos. Dissemos às garotas que só queríamos a companhia de uma, escolhemos uma garota e fomos com ela para a mesa. A seguir apareceu uma mulher um pouco menos jovem que nos informou que as grotas pertenciam a uma companhia que as distribuía pelos hotéis de cinco estrelas de Hanói.
E também nos informou que as regras eram as seguintes. Teríamos que pagar trinta e cinco dólares para estar com uma garota no dancing e teríamos que pagar mais sessenta dólares para levarmos a garota para o nosso quarto no hotel. Mas nós dissemos à senhora que controlava as garotas que não estávamos interessados em estar com uma garota no dancing, que só estávamos interessados em estar com uma garota na cama.
E nessa conformidade, dissemos à senhora que só pagaríamos os sessenta dólares concernentes à segunda parte do programa. Mas a senhora disse-nos que não podia fazer isso, que tinha que cumprir as regras, etc., etc. A garota entretanto foi-nos assediando várias vezes. Nós já pressentíamos que engatar a garota era uma questão de tempo e continuámos calmamente no dancing a beber a nossa coca-cola. O tempo foi passando, o dancing foi ficando gradualmente mais vazio e a garota veio finalmente ter connosco e disse que aceitava a nossa proposta.
Após quatro dias em Hanói voámos para Macau, uma antiga colónia portuguesa, onde julgávamos ter algumas dificuldades no que respeita a encontros com garotas. Mas a verdade é que não houve dificuldades nenhumas. Ali mesmo ao lado do nosso hotel, o Holiday Inn, nós reparámos que havia muitas garotas. Era noite, estávamos no centro de Macau, numa rua feericamente iluminada, e vimos que a rua estava cheia de meninas chinesas com o aspecto e a maneira de andar que as prostitutas têm em todo o mundo. Aliás nós nunca vimos tantas prostitutas na rua como nessa rua de Macau.
E foi tiro e queda. Mal saímos do hotel fomos logo abordados por uma rapariga chinesa que nem sequer sabia falar inglês. A garota, que depois nos disse por gestos que era do Tibete, escreveu um preço, quinhentas patacas, numa máquina de calcular. Nós propusemos um preço mais baixo, trezentas patacas, e a moça aceitou.
E lá fomos de mãos dadas com a garota chinesa para o quarto dela, não muito longe dali. Não vamos entrar em pormenores, vamos levantar a cortina apenas um poucochinho e dizer-vos que a bela e escultural moça chinesa cantou durante os preliminares e cantou e gritou durante todo o acto sexual. A moça não sabia inglês, mas sabia cantar e gritar e sabia lindamente fazer o amor.
Na etapa seguinte da nossa viagem, em Manila, nas Filipinas, um angariador de turistas para o sexo veio propor-nos, à saída do nosso hotel, um encontro com uma garota filipina, que ele dizia que era muito jovem e muito bonita, pelo preço de trinta dólares. Nós estávamos com o estômago cheio, pois tínhamos acabado de jantar, mas acabámos por ir ter com a garota, que era realmente muito jovem e muito bonita e que nos soube muito bem. Digamos que depois de um frugal jantar num hotel de cinco estrelas a garota funcionou como uma sobremesa doce e apetitosa.
A última etapa da nossa viagem foi Bali, ma Indonésia, onde já tínhamos estado no ano anterior. Estivemos sete dias num hotel de praia em Kuta e à noite fizemos regularmente as nossas visitas às casas de garotas de Sanur. Nessas casas de Sanur é muito difícil escolher uma garota. É que assim que chegamos aparecem dezenas de garotas, até parece um colégio feminino na hora do recreio. É claro que nós tivemos que as observar uma a uma, tal como se fôssemos membros do júri de um concurso de beleza.
Escusado será dizer que a situação é muito delicada e que as moças recusadas ficam tristes e nós também. Mas a nossa tristeza desaparece quando vamos para o quarto com a moça por nós eleita. No entanto, é sempre aborrecido dizer não a uma garota. Mas por uma estranha coincidência este ano aconteceu irmos com uma garota que tínhamos recusado no ano anterior. Nós não nos lembrávamos, mas a garota lembrava-se. E foi muito bom ver de perto a felicidade e a alegria da garota indonésia. E assim terminou em beleza mais uma viagem pelo oriente fascinante dos nossos sonhos de sexo e de amor

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